Nono Capítulo.
Cidades no Mar.
As Fronteiras dos Oceanos.
A teia da vida no nosso planeta é suportada pelo ciclo da água, essa enorme variação de formas de água que fazem parte da circulação planetária: os oceanos, a neve, gelo, chuva, lagos, águas subterrâneas e aquíferos. Esta circulação em constante renovação, alimentada pelo calor do Sol, pela rotação da Terra e pelas forças de Coriolis, sustém todo o ciclo da vida incluindo a humanidade.
Fala-se muitas vezes de áreas do planeta sub-desenvolvidas, mas raramente se presta a devida atenção ao maior dos recursos naturais por explorar, os oceanos. A exploração e desenvolvimento do potencial dos oceanos devem no entanto ser realizados com o maior dos cuidados. Embora os humanos tenham utilizado os oceanos de todo o mundo por milhares de anos como fonte de alimento e meio de transporte, estamos apenas no início no que toca ao reconhecimento do enorme potencial e diversidade deste relativamente inexplorado recurso. Os oceanos oferecem um quase inesgotável ambiente para obter alimento, produção de energia, transporte, minerais, produtos farmacêuticos e muito mais.
No passado constatamos que houve muito pouca estima pela vida que existe nos oceanos, que no fundo é essencial para toda a vida na Terra. Poderíamos sobreviver e progredir mais facilmente enquanto espécie se levássemos a sério as reclamações dos nossos oceanos, se cuidássemos melhor deles dito de outra forma.
Agressões Comuns ao Ambiente dos Oceanos.
Em Agosto de 1970 o exército dos Estados Unidos despejou deliberadamente no Oceano Atlântico contentores com 67 Toneladas de gás nervoso. Pior, o local de despejo encontrava-se junto a uma artéria principal deste sistema de suporte de vida, a Corrente do Golfo, o que torna a limpeza desses detritos ainda mais urgente. As marinhas de guerra de todo o mundo, as frotas de pesca, os cruzeiros e muitas das cidades costeiras costumam utilizar os oceanos simultaneamente como caixote do lixo e casa-de-banho gigante.
A ausência de condições sanitárias adequadas é uma das maiores ameaças para a saúde humana. Resulta em problemas de saúde, doenças e mortes relacionadas com a poluição das águas costeiras. Só o Sul da Ásia tem cerca de 825 milhões de pessoas que vivem nas áreas costeiras sem quaisquer instalações de saneamento básico. Não é difícil de perceber porque é que os níveis de águas de esgoto não tratadas nas costas do Sul da Ásia são as mais elevadas do mundo e isso, para além do risco de saúde que constitui para as pessoas que ali vivem, origina massas tóxicas de algas que provocam a morte em massa de peixes, recifes de coral e demais vida marinha. (4) Página 28 A transformação da biosfera global. Doze estratégias futuristas por Elliot Maynard, Professor Doutorado.
As práticas correntes ambientais destrutivas são no entanto numerosas. Os arrastões de pesca industrial, por exemplo, danificam o fundo do mar de forma massiva e a uma escala global. As suas redes de arrasto esmagam e enterram os organismos que se desenvolvem nos leitos dos oceanos, destruindo a sua alimentação e áreas de reprodução. Este ecossistema é crucial para reabastecer todo o conjunto de alimentos provenientes do mar, pelo que se encontra crescentemente ameaçado. (5) ibidem, página 70.
Este processo causa mais dano aos leitos dos oceanos do que a desflorestação em massa provoca à superfície terrestre. Uma única passagem desses navios de pesca mata entre 5 a 20% dos animais presentes no fundo dos mares e isto processa-se 24 horas por dia, sete dias por semana, ou seja, ininterruptamente, ano após ano em todos os mares do planeta. (6) ibidem, páginas 70 a 71.
A péssima gestão dos recursos tem originado imensas áreas marinhas sem qualquer vida no Golfo do México, onde desagua o Rio Mississippi. As práticas económicas destrutivas abusaram de tal maneira da pesca intensiva que mesmo as espécies com maior capacidade reprodutiva estão ameaçadas de extinção. Por todo o mundo as maiores e mais importantes espécies marinhas, assim como os recifes de coral que as alimentam, estão a desaparecer rapidamente, embora de maneira não natural ou para que a sua morte de alguma forma prolongue o nosso modo de vida. Pelo contrário, estas mortes com laivos de extinção colocam-nos em perigo enquanto espécie e derivam da nossa própria ignorância e até da nossa arrogância. Mesmo relativamente ao mais complexo ecossistema nós actuamos como predadores.