A Irlanda foi obrigada pela União a pedir ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira e ao FMI. Na realidade, o Estado irlandês não precisava de dinheiro. Apenas teria de recorrer aos mercados da dívida em Abril de 2011, mês até ao qual tinha os seus problemas de financiamento resolvidos. Só que o mesmo que o levou a um défice público astronómico repete-se: é preciso salvar a banca em apuros. Este pedido de ajuda, que enterra definitivamente a possibilidade de recuperação da economia irlandesa, pode vir a ter um efeito arrastamento para países como Portugal. E a Irlanda continuará o seu caminho para o abismo porque a Europa, apesar da sua generosidade com os especuladores, não muda uma vírgula nas draconianas imposições aos Estados-membros. Não se importa de ver afundar as economias periféricas da Europa para salvar a banca sem que, no entanto, tenha a coragem de dar qualquer passo para responsabilizar os culpados por este desastre e disciplinar o comportamento patológico das instituições financeiras. O governo irlandês quer tentar o impossível: reduzir o défice público, causado por esta ajuda à banca, em 15 mil milhões de euros até 2014. E tentará que isso aconteça através do aumento de impostos e redução das prestações sociais. Trata-se de um desvio de fundos dos cidadãos e das empresas produtivas para as instituições financeiras. As mesmas instituições que não hesitam em cobrar juros usurários aos Estados para os salvar da situação em que ficaram por causa ajuda que lhe deram. Ou seja, a banca rouba duas vezes: é salva por dinheiro públicos e agradece cobrando juros astronómicos por um risco que ela própria provocou. Aquilo a que estamos a assistir na Europa é a um roubo sem precedentes. E este roubo não resulta apenas da impossibilidade de deixar cair instituições financeiras que se transformaram em monstros inimputáveis. Resulta de uma geração de líderes políticos cobardes que se recusam a decidir que a política tem de voltar a comandar a economia. O que está a acontecer na Irlanda é apenas mais um episódio de um assalto aos cofres públicos. E ele continuará até os europeus mudarem de governantes.
Clarinho como água. Agora não se esqueçam de continuar a votar nas mesmas bestas...
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