As ondas de choque resultantes da divulgação das escutas do caso ‘Face Oculta’ estão longe de dissipar-se. Já rolaram cabeças na PT e sabe-se lá o que mais acontecerá. Os depoimentos, na Comissão de Ética, de dois dos protagonistas de muitos dos telefonemas interceptados revelaram-se confrangedores no que respeita ao seu nível, bem como quanto a inteligência, competência e carácter. Rui Pedro Soares e Paulo Penedos não se limitaram a ser patéticos. Foram também exemplos claros da incompetência que por aí grassa, em organismos públicos e em empresas onde o Estado tem influência directa. Perante todo o País, demonstraram aquilo de que é feito o clientelismo político-partidário e os efeitos nefastos que vem acarretando. Gente que só por subscrever cartão partidário ascende a posições de relevo no mundo empresarial e nas estruturas estatais só fragiliza a sociedade e corrompe valores que lhe são fundamentais. Os ‘boys’ que pululam por todo o lado não são mais do que correias de transmissão e paus-mandados de quem lhes deu os ‘jobs’. Quando se lhes aponta o dedo, deve ter-se em mente quem, de facto, os nomeou ou agiu de forma a que fossem colocados nos lugares que acabaram por ocupar, sem preparação ou experiência, desconsiderando a necessidade de erradicar o seguidismo fácil, substituindo-o pela meritocracia e pela inteligência. As personagens referidas são bem o espelho daquilo em que este Portugal socrático se transformou. A percepção desse fenómeno de deterioração acontece em vários patamares, até mesmo no plano da Justiça. Nesse aspecto, é preocupante o estado a que chegou a imagem do PGR, abalada pelas contradições que têm manchado o seu mandato. Uma das figuras de proa do sistema judicial não pode ficar vulnerável ao ponto de sujeitar-se a proporcionar uma manchete como a que o semanário ‘Sol’ ontem publicou. Quando se deixa de acreditar na Justiça e se lança dúvidas sobre a seriedade dos procedimentos de investigação há que fazer alguma coisa. Se há muito Pinto Monteiro precisava de dar explicações, agora parece-me que isso se torna urgente. Será bom que não demore a esclarecer, convincentemente, os seus actos em todos os processos em que o nome do primeiro-ministro aparece envolvido e afaste as suspeitas de compadrio que sobre ele vêm incidindo já não apenas em surdina mas cada vez mais às claras. A última entrevista de Cândida Almeida, por exemplo, de tão seguidista e acrítica, não se me afigura que o tenha ajudado. Nem à restauração da confiança dos cidadãos na Justiça. Convém que os detentores de cargos públicos não se esqueçam de que o exemplo vem de cima e que, para quem quer ser respeitado, se revela fundamental começar por dar-se ao respeito... Agora e no futuro.
Artigo aqui.
Nunca gostei muito do José Eduardo Moniz, mas tenho de lhe fazer uma vénia por ter escrito este artigo.
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