Depois de ter anunciado, a meio do Verão, “o princípio do fim da crise”, o primeiro-ministro de Portugal aproveitou a quadra natalícia para apregoar “sinais claros de retoma”. Se as condições de vida dos portugueses dependessem de discursos, Portugal seria um país de gente feliz, sem angústias nem lágrimas. Mas não é. Tanto "o princípio do fim da crise", como os recentes "sinais claros de retoma", na realidade representam um país com bastante mais de meio milhão de desempregados, e isto contando apenas com os registados e mantidos nos centros de emprego. Um país em que 6 em cada 7 trabalhadores têm trabalho em condições de precariedade, esse paraíso da exploração que funciona como pressão sobre os empregados, regredindo em certos casos a vis condições de contratação e relação laboral do século XIX. "O princípio do fim da crise", como os recentes "sinais claros de retoma", representam um país de pobreza, de exclusão, de incerteza, com velhos condenados à miséria ao fim de uma vida de trabalho e jovens sem perspectivas de futuro. O optimismo dos titulares do poder, ao perorarem sobre "o princípio do fim da crise", dirige-se a uma clientela. Em Portugal há uma casta que se tem empanturrado com a governação das últimas três décadas. Uma casta para a qual criar riqueza é produzirem-se novos-ricos. E não estou só a falar da economia esquemática, isto é, feita de esquemas que rebentam todos os dias nos jornais, mas dos que abicham benesses, favores, contratos, subsídios, isenções, avales que o Estado desvia dos orçamentos que, segundo a Constituição, deviam destinar-se à "construção de um país mais justo e mais fraterno". Pelo Ano Novo, o país terá mais discursos, novas promessas e as mesmas políticas.
Artigo de João Paulo Guerra aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário