13 de novembro de 2008

Os principais objectivos da política externa dos Estados Unidos da América I. Por Noam Chomsky.

A protecção do território dos Estados Unidos.


A relação entre os Estados Unidos da América e os outros países obviamente remonta às origens da história da América, mas como a Segunda Guerra Mundial foi um verdadeiro divisor de águas, comecemos então por aí. Enquanto a guerra promovia o enfraquecimento ou a destruição dos nossos rivais industriais, aos Estados Unidos ela propiciava enormes benefícios. O nosso território jamais foi atacado, e a produção americana mais que triplicou.
Mesmo antes da guerra, os Estados Unidos já eram de longe o principal país industrializado do mundo. Mas, nesse momento, possuíamos literalmente 50% da riqueza mundial e controlávamos os dois lados dos dois oceanos, Atlântico e Pacífico. Nunca houve um período na história em que uma nação tenha tido um controle da segurança no mundo tão esmagador.
Aqueles que determinam a política norte-americana sabiam muito bem que os Estados Unidos
sairiam da Segunda Guerra como a primeira potência global da história, tanto assim é que, durante e depois da guerra, já planeavam cuidadosamente como moldar o mundo do pós-guerra. Como esta é uma sociedade aberta, podemos ler os seus planos, muito claros e francos.
Os estrategas norte-americanos, desde aqueles ligados ao Departamento de Estado até aos do Conselho de Relações Exteriores (um dos grandes canais pelos quais os líderes empresariais influenciam a política externa), concordaram que o domínio dos Estados Unidos tinha de ser mantido. Mas havia uma divergência de opinião sobre como fazê-lo. No extremo da linha dura, temos documentos como o Memorando 68 do Conselho de Segurança Nacional (de 1950). O CSN 68 desenvolveu as opiniões do secretário de Estado Dean Acheson e foi escrito por Paul Nitze, que ainda anda por aí (ele foi um dos negociadores do controle de armamentos de Ronald Reagan). O CSN 68 propunha uma "estratégia de empurrar para trás", que "fomentaria as sementes da destruição dentro do sistema soviético, para que pudéssemos então negociar um pacto, nos nossos termos, com a União Soviética" (um Estado ou Estados sucessores).
As políticas recomendadas pelo CSN 68 exigiriam sacrifícios e disciplina por parte dos Estados Unidos, ou por outras palavras, gigantescos gastos militares e cortes nos serviços sociais. Seria necessário também superar o excesso de tolerância que permite demasiada dissidência interna.
Essas políticas já estavam, de facto, a ser implementadas desde 1949, quando a espionagem dos
EUA na Europa Oriental foi transferida para uma rede liderada por Reinhard Gehlen, que já tinha dirigido a inteligência militar nazi na Frente Leste da guerra. Essa rede era parte da aliança EUA nazis, que absorveu rapidamente muitos dos piores criminosos de guerra e estendeu as suas operações para a América Latina e para outras partes do mundo. Essas operações incluíam um exército secreto, patrocinado pela aliança EUA-nazis, que se encarregava de fornecer agentes e provisões militares a exércitos que tinham sido criados por Hitler
e que, no início da década de 1950, ainda operavam na União Soviética e no Leste Europeu.
Esse facto é conhecido nos Estados Unidos, mas considerado insignificante, embora pudesse
provocar caras feias e mesas viradas se descobríssemos, por exemplo, que a União Soviética enviara agentes e provisões a exércitos comandados por Hitler que operavam nas Montanhas Rochosas.

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