16 de maio de 2011

A Oeste nada de novo...

No último ano, tentámos analisar os erros que provocaram a crise económica mundial. Agora é altura de analisar os erros que cometemos ao tentar combater esta crise. Em 2009, quando a magnitude da crise se tornou evidente, muitas pessoas anteciparam que esta seria mal gerida. Mas talvez devêssemos estar gratos de, pelo menos, ter sido gerida. Ao contrário do que aconteceu nos anos 30, os decisores políticos agiram rapidamente, ignorando os dogmas que alertavam para os perigos de uma rápida intervenção. Além disso, sabiam, que ao contrário do que aconteceu no período entre as duas guerras mundiais, era necessária uma coordenação internacional mais próxima. Em 2008-2009, a influência do G20 cresceu em detrimento do G8. As pessoas tomaram consciência da necessidade de uma verdadeira governação global. Por fim, surgiram uma série de propostas que visavam tornar esta governação global numa realidade. Acontece que a experiência não é apenas o nome que damos aos nossos erros. Como mostrou a crise financeira, é também o processo que nos permite aumentar o nosso entendimento e contemplar um novo mundo. Infelizmente, este processo não foi muito longe, permitindo a muitos bancos, governos e instituições internacionais regressarem ao "business as usual". De facto, hoje em dia os incendiários da economia global transformaram-se em fiscais e acusam os bombeiros de ter provocado as inundações. No pico da crise, os governos tiveram a oportunidade de criar uma nova infra-estrutura financeira global. Mas deixaram escapar esta oportunidade. O facto de muitas economias ocidentais terem saído da recessão não nos deve levar a pensar que a crise foi apenas um breve interlúdio e que o mundo pós-crise pode regressar ao "status quo" anterior à crise. Existem pressões para reescrever a história desta crise, descrevendo os efeitos como se fossem as causas e culpar os governos que geriram a crise desde o início. O ponto mais baixo - deveríamos antes dizer, mais ridículo - foi atingido quando as agências de "rating" intensificaram a sua vigilância sobre as dívidas públicas e os mercados, que tinham sido vítimas da incompetência e má fé das agências, ficaram obcecados pelas suas avaliações. O Lehman Brothers recebeu uma avaliação elevada na véspera do seu colapso, apesar de, actualmente, as agências de "rating" criticarem os governos que tiraram a economia mundial do abismo por violarem princípios de contabilidade. Estarão as agências de "rating" e os mercados assim tão mal informados sobre os gastos públicos? De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países do G20 canalizaram, em média, 17,6% do seu produto interno bruto (PIB) para apoiar os sistemas bancários. Da mesma forma, os gastos para estimular a economia real totalizaram apenas 0,5% do PIB em 2008, 1,5% em 2009 e 1% em 2010. No total, os planos de recuperação dos Estados-membros da União Europeia representaram apenas 1,6% do PIB, quando comparado com 5,6% nos Estados Unidos. Os governos tomaram as medidas certas para salvar os bancos, mas ignoraram as consequências políticas. Ao repartir grandes montantes de dinheiro para salvar o sistema financeiro, sem pedir, em troca, garantias genuínas, mostraram a sua incapacidade de fazer previsões. Foi imperdoável terem reconhecido que as agências de "rating" eram incompetentes sem fazer nada para as regular. Como resultado, os contribuintes podem ter que pagar duas vezes: uma pelo resgate e outra pela dívida de baixa qualidade em que ocorreram durante a ajuda, como confirmam os programas de austeridade adoptados por alguns países europeus. De forma paradoxal, a sensação crescente de que se evitou uma catástrofe deu lugar a uma exigência, cada vez maior, para que os governos cortem os gastos públicos e sociais e diminuam os programas de investimento. As pessoas estão a regressar às políticas que provocaram a crise. Mas os governos não são culpados de enganar a opinião pública; em todo o caso, actuaram de forma ingénua e agora estão a pagar o preço. Na realidade, não tinham outra opção: devem assumir a responsabilidade e exercer o poder, mesmo que isso exija ir contra a opinião pública - em especial, se isso ajudar a aliviar o sofrimento social provocado pela crise. De facto, é necessário recordar que o crescimento económico só foi sustentável em países com sistemas de bem-estar social altamente desenvolvidos, como a França. Sim, estes países vão recuperar a um ritmo mais lento do que outros. Mas os países que passaram por uma recessão profunda terão que se esforçar mais do que os outros. Talvez a questão mais importante a destacar seja o facto do caminho para uma maior competitividade, independentemente do custo, ir apenas agravar a crise. As políticas baseadas no crescimento das exportações só pode ser bem sucedido se existirem países dispostos a ter défices orçamentais. Tendo em conta que os desequilíbrios globais que levaram à crise continuam por resolver, o aumento da competitividade será uma vitória de Pirro que provocará uma grave redução dos níveis de vida e do consumo.



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