Há um ano as Finanças caucionaram um empréstimo de 450 milhões de euros ao Banco Privado Português mediante contra-garantias de 672 milhões de euros. Quem avaliou as contra-garantias? O próprio Ministério (o Banco de Portugal assinou por baixo). Volvido um ano, a Deloitte diz que os 672 milhões valem afinal… 150 milhões. A diferença perdeu-se algures. Com uma consequência: alguém terá de a pagar… Nesta altura alguém no Terreiro do Paço deve estar a dizer: "Claro, o auditor foi contratado por quem quer comprar o banco (a Orey)…". Ou seja, o auditor tem interesse em baixar o valor das contra-garantias. Ok, admitamos que o "colateral" (créditos concedidos pelo BPP) permite alguma aleatoriedade na análise e que em vez de 150 são 200 milhões; ou mesmo 250. Mesmo assim o buraco é monumental. E alguém terá de o pagar… Aqui chegados restam duas perguntas: foi o receio de falência que levou as Finanças (e o banco central) a aceitarem a avaliação de 672 milhões, sabendo que quem as entregava estava desesperado por dinheiro fresco para evitar que o banco fechasse no dia seguinte? Não. O próprio ministro das Finanças disse, na altura, que não havia risco sistémico. Foi para salvar a pele de gente importante que tinha negócios com o BPP? Julgue o leitor. Face à gravidade da situação, há uma coisa preocupante: não há por aí nenhum deputado que peça uma comissão de inquérito? Ou anda tudo distraído? Não é por nada, mas o fedor a promiscuidade é grande. Além de que o contribuinte vai ter de pagar mais um buraco.
Artigo de Camilo Lourenço aqui.
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