14 de outubro de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Nono Capítulo.

Uso.

Algumas dessas cidades poderiam ser mais vocacionadas para o ensino universitário e centros de investigação, onde estudantes de todo o mundo teriam a possibilidade de estudar ciências marinhas e gestão de recursos. Poderiam ainda desempenhar funções de estações de monitorização das correntes oceânicas, dos padrões meteorológicos, da ecologia marinha, poluição e de fenómenos geológicos. Para garantir uma exploração marítima mais eficaz seriam concebidos robots submersíveis acessíveis a todos.

Outras plataformas construídas no mar teriam outros usos como albergar sistemas para lançamento de foguetes. Se os veículos espaciais forem lançados da linha do Equador pode poupar-se energia porque esse é o local do planeta que se move a maior velocidade. Assim, a localização de bases para lançamento de foguetes na linha do Equador tiraria toda a vantagem da rotação da Terra para obtenção de um impulso adicional, diminuindo a necessidade de propulsores de queima para se atingir a órbita geocêntrica (a órbita onde os satélites acompanham o movimento da Terra e permanecem em posição estacionária relativamente a ela). Para as órbitas polares localizar-se-iam as plataformas de lançamento ao largo da costa Oeste dos Estados Unidos, munidos de controlo computadorizado e sistemas de comando localizados em navios ou nas próprias plataformas.

Mas nem todas as áreas dos oceanos precisam de ser utilizadas como bases para desenvolvimento tecnológico. Vastas áreas podem ser reservadas para melhoramento e preservação naturais, constituindo-as como áreas prioritárias da preservação global.

Por exemplo, as áreas de bancos de areias e zonas pouco profundas das Caraíbas e Esmeralda constituem as zonas com mais claras águas nas Bahamas e um dos mais belos atóis de coral do Hemisfério Ocidental. As águas que rodeiam estas ilhas variam de matizes entre o azul profundo próprio da Corrente do Golfo até às cintilantes sombras de verde-esmeralda. Áreas semelhantes existem no Pacífico do Sul e em muitas outras zonas pelo mundo fora, onde milhares de quilómetros de linha de costa continuam libertas de ocupação e habitação humanas. Num novo espírito de efectiva cooperação mundial, muitas destas zonas podem ser reservadas para parques marinhos internacionais que promovam a educação e o lazer de todos. Nestas áreas excepcionais a única intervenção humana deverá ser a de preservar e proteger os santuários aquáticos aí existentes.


Estilos de Vida nas Cidades no Mar.

As futuras cidades no mar podem proporcionar novos e fascinantes estilos de vida para milhões de habitantes, assim como servir de destino para todos aqueles que as queiram visitar. Algumas delas podem destinar-se a parques internacionais subaquáticos onde os visitantes podem observar de perto os grandes corais protegidos do mundo. Mediante grandes janelas subaquáticas poder-se-ão observar as maravilhas deste ambiente peculiar com absoluto conforto e, através de uma cadeira cibernética, poderão comunicar directamente com golfinhos e outras formas de vida marinha. Também podem ser organizadas expedições de mergulho pelas escotilhas de ar e permitir às pessoas que participem na investigação, na navegação, no mergulho de observação, assim como em outras actividades possíveis nas cidades do mar, tanto na superfície com abaixo dela, sem que seja perturbado o equilíbrio do ambiente marinho.


A Construção.

As grandes estruturas oceânicas seriam construídas tanto acima com abaixo do nível do mar e representariam um espectacular feito de engenharia dotado de acessos para aviões, navios e submarinos. Um dos projectos mais eficientes teria uma configuração circular com múltiplos pisos, fabricado em aço, em vidro de alta resistência e em betão pré-esforçado reforçado com fibra de carbono.

Algumas destas estruturas seriam flutuantes enquanto outras seriam construídas sobre pilares com barreiras flutuantes, que previnem os efeitos nefastos para a estrutura de ventos e marés fortes. Em águas mais profundas as plataformas flutuantes podem ser ancoradas ao fundo do mar para obterem assim maior estabilidade. Há ainda a possibilidade de haver plataformas que flutuem livremente, com auto-propulsão e grande estabilidade garantida por colunas de 6 metros de diâmetro que penetram cerca de 45 metros dentro de água. Para manter as plataformas estáveis em qualquer tipo de condições atmosféricas, as partes inferiores destas colunas estabilizadoras conteriam uma série de discos que se estendem para o exterior da própria coluna cerca de 2 metros e espaçados entre si 3 metros. Uma cintura envolvendo todo o projecto actuaria como quebra-ondas para a protecção adicional do complexo.

Algumas destas cidades podem ser construídas nos países tecnicamente mais desenvolvidos, sendo depois transportadas para os seus destinos em secções ou como sistemas operacionais completos, à semelhança do que acontece actualmente com as plataformas petrolíferas que operam em alto mar. Diferentes configurações podem ser obtidas através de estruturas variáveis, montadas no local e modificadas de acordo com as necessidades de diferentes funções, tendo ainda a capacidade de serem desmontadas e deslocadas para outro local, se tal se revelar necessário.

Outras estruturas situadas acima da superfície do mar e ancoradas ao seu fundo serviriam como eficientes bases para a exploração de minérios. Estas estruturas em forma de cúpula poderiam ser praticamente todas automatizadas e os seus níveis de flutuação ajustados através do alagamento ou drenagem das câmaras de flutuação. Elas seriam construídas em doca seca, transportadas para o seu destino e então submersas e ancoradas no devido local. Um sistema de doca flutuante, que sobe e desce acompanhando as marés e que albergue instalações de superfície e submersas pode também fazer parte deste projecto.

Todo o desenvolvimento marinho deve estar em sintonia com a capacidade de reposição e sustentabilidade próprios do ambiente marítimo. No futuro, antes da construção de qualquer destas estruturas, os projectistas deverão antes estimar todos os eventuais impactos negativos em toda a hidrosfera como os rios, os estuários, lagos e oceanos.

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