O sociólogo francês Edgar Morin defendeu hoje, em Viseu, que cada Governo devia criar um "observatório das desigualdades" económicas, para que todos os anos estas fossem reduzidas. Edgar Morin, um dos mais reconhecidos pensadores vivos, participou hoje no colóquio "Complexidade, Valores e Educação do Futuro", que assinalou os 30 anos de vida do Instituto Piaget. "Parece-me que nos últimos 20 anos houve um desenvolvimento das desigualdades, são cada vez maiores", afirmou aos jornalistas, considerando que, neste âmbito, "deve em cada nação fazer-se um observatório das desigualdades, para em cada ano reduzir as diferenças entre os de cima e os de baixo". Para o sociólogo de 88 anos, defensor da inter e da transdisciplinariedade, deve haver a preocupação de "reduzir o desenvolvimento industrial" e de "retornar às quintas, às pequenas empresas e à agricultura biológica". "Devemos, em todos os campos, desenvolver uma multiplicidade económica para os problemas humanos e de saúde", frisou. Na sua opinião, há um "montão de reformas" que são necessárias fazer "para mudar de caminho", reiterando a ideia de que uma delas deve ser o modelo de ensino das universidades. Edgar Morin considera que as universidades deveriam destinar um ano aos "problemas de cultura geral", ou seja, aqueles que "não se podem ensinar sobre a natureza humana, as possibilidades de errar e de ilusões, de estudar a época planetária e de ensinar a compreensão humana, os vícios, as intoxicações da civilização. Ensinar uma racionalidade aberta". "E deve pensar-se em desenvolver ciências multidisciplinares como a ecologia, as ciências da terra e a cosmologia para fazer uma nova mentalidade, para fazer a fecundidade do saber disciplinar", sublinhou. No entanto, o estudioso alertou que, para tal, "é necessário pelo menos uma minoria de professores que sinta a necessidade de fazer a reforma e inicie o movimento". "Todo o princípio é muito difícil e modesto", avisou, acrescentando que a mudança "não se pode fazer imediatamente porque as mentes e as instituições não estão preparadas". Edgar Morin é autor de cerca de duas dezenas de livros (alguns em colaboração com outros autores) - entre os quais "O Método" - e, apesar dos 88 anos, continua "em busca do verdadeiro sentido da vida, avaliando de forma crítica os actuais sistemas sociais, principalmente em França onde reside, e o papel do homem enquanto impulsionador da ciência e destruidor dos equilíbrios do mundo", sublinha o Instituto Piaget. É investigador emérito do Centre Nationale de Recherche Scientifique, presidente da Associação para o Pensamento Complexo e foi presidente da Agência Europeia para a Cultura da UNESCO, membro fundador da Academia da Latinidade, co-director do Centro de Estudos Transdisciplinares da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales. É também investigador e membro honorário do Instituto Piaget.
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É muito bonito chegar a esta idade com tal vigor intelectual e físico, questionando as coisas porque não podem parecer estar bem. De salientar entre a sua obra escrita "O paradigma perdido" que coloca em questão a sociedade ocidental e o seu rumo desumanizante. Repararam no seu actual paradigma? Palavras sábias...
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