Durante a Segunda Guerra Mundial, grupos de estudo do Departamento de Estado e do Conselho de Relações Exteriores desenvolveram planos para o mundo pós-guerra nos termos do que eles
determinaram como a "Grande Área", para que esta fosse subordinada às necessidades da economia norte-americana. Estavam incluídos na "Grande Área" o Hemisfério Ocidental, a Europa Ocidental, o Oriente, o antigo Império Britânico (que estava a ser desmantelado), as incomparáveis fontes de energia do Médio Oriente (que estavam a passar então para as mãos americanas ao mesmo tempo que expulsávamos os nossos rivais, França e Inglaterra), o resto do Terceiro Mundo e, se possível, o mundo inteiro. Esses planos foram sendo executados à medida que as oportunidades permitiam.
A cada sector da nova ordem mundial foi designada uma função específica. Os países
industrializados seriam guiados pelas "grandes oficinas", Alemanha e Japão, que tinham
demonstrado as suas proezas na guerra (e agora trabalhavam sob a supervisão norte-americana). Ao Terceiro Mundo cabia “executar a sua principal função de fonte de matérias –primas e de mercado” para as sociedades industriais capitalistas, como dizia um memorando do Departamento de Estado, de 1949. Era para ser “explorado” (nas palavras de Kennan) para a reconstrução da Europa e do Japão. As referências foram feitas ao Sudeste Asiático e a África, mas as questões foram colocadas de modo geral.
Kennan sugeriu até mesmo que a Europa receberia assim um estímulo psicológico com o projeto de “exploração” da África. Naturalmente, ninguém sugeriu que a África explorasse a Europa para a sua reconstrução, melhorando talvez o seu estado de espírito. Esses documentos libertados são lidos somente por estudiosos, que parecem não encontrar nada de estranho ou dissonante em tudo isso.
A Guerra do Vietname emergiu da necessidade de garantir esse papel de serviçal. Os vietnamitas
nacionalistas não quiseram aceitar isso e, portanto, tinham de ser esmagados. A ameaça não era a de que eles pudessem conquistar alguém, mas que eles poderiam dar um exemplo perigoso de
independência nacional, que inspiraria outros países na região. O governo dos EUA tinha de desempenhar dois importantes papéis. O primeiro era o de garantir os distantes domínios da “Grande Área”. Isso exigia uma postura bastante ameaçadora, para assegurar que ninguém interferisse nessa tarefa – motivo pelo qual houve tantas campanhas dirigidas para as
armas nucleares. O segundo papel era conseguir subvenções públicas para a indústria de alta tecnologia. Por vários motivos, o método adoptado tem sido, em grande parte, a aplicação em gastos militares.
Livre comércio é um bom termo para ser utilizado nos departamentos de economia e em editoriais de jornais, mas ninguém do mundo empresarial, nem do governo, leva a sério essa doutrina. Os sectores da economia americana que podem competir internacionalmente são, principalmente, aqueles subvencionados pelo governo: a agricultura intensiva, em termos de capital (a agroempresa, como é chamada), a indústria de alta tecnologia, a indústria farmacêutica, a indústria biotecnológica, etc. O mesmo é válido para outras sociedades industriais. O governo dos EUA faz o povo pagar pela pesquisa e pelo desenvolvimento e proporciona, em grande parte por intermédio dos militares, um mercado garantido para a produção supérflua. Se algo é transacionável, o sector privado encarrega-se dele. O sistema de subsídio público e lucro privado é o que eles chamam de livre empresa.
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