6 de novembro de 2008

Cooperação portuguesa com os P.A.L.O.P..

Eloquentemente ilustrativo, embora focando apenas o caso de Angola, que poderia ser o mais profícuo, do que tem sido a cooperação portuguesa com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, ou ex-colónias de forma mais abreviada, é o artigo de Eugénio Costa Almeida publicado no "Jornal Lusófono", edição nº 44 de 9 de Janeiro de 2004, onde fica patente a falta de empenho naquele que poderia ser um caminho de boas relações e franco desenvolvimento para ambas as partes, já por mim aqui referido, e de que se apresentam alguns excertos:



"Verifica-se que a Cooperação portuguesa, se de cooperação se pode falar, não passa, em regra, de boas palavras de intenção, de apoios em sectores muito especializados (banca, audiovisuais, petróleo) e pouco mais (...). Realmente, que empresas portuguesas, autónomas ou em ‘joint-venture’, vemos operar em Angola? A banca, com os grupos BPI (Banco de Fomento de Angola) e Espírito Santo (Banco Espírito Santo de Angola), onde mostram estar com Angola por via dos avultados investimentos aí operados. O Totta também parece apostar no sector (só que é um Grupo hispânico baseado em Portugal, ou seja, o Santander). Paradoxalmente, o maior grupo bancário privado português, BCP (que já teve uma posição de destaque no país, com os extintos Atlântico e SottoMayor), é o único que parece manter-se fora dessa corrida. A prova parece ser que, de acordo com especialistas angolanos que por cá passam e que me transmitem essas suas preocupações, parte das suas operações bancárias são efectuadas não nos escritórios de Luanda, mas em Lisboa (...). Petróleo e gás natural, através da Galp; todavia já houve quem se questionasse da qualidade desta empresa para concorrer, naturalmente, aos blocos petrolíferos nacionais de Angola, sinal de que Portugal e a sua empresa petrolífera nada têm feito para se mostrar devidamente em Angola. Só que é verdade que as suas inúmeras participações acontece(ra)m na linha dos divertidos programas de reescalonamento da dívida angolana a Portugal e sempre em parceria com outras empresas e com participações mínimas. Também é um facto que só os grandes tubarões anglo-franco-americanos, como a Chevron/Texaco, a BP, a Total ou a Exxon/Mobil, é que são devidamente conhecidos em Angola. Até a italiana Agip é mais conhecida em Angola que a Galp. E porque será? Não são o petróleo e o gás natural produtos considerados estratégicos em qualquer país? A razão deve-se prender com o facto da petrolífera portuguesa ser dominada por uma empresa estrangeira, também com interesses em Angola (...). Nos sectores audiovisual e multimédia, através de programas de intercâmbio entre a RTP-África e a TPA (Televisão Pública de Angola) e entre RDP-África e a RN, no primeiro caso, e da Portugal Telecom no da multimédia (Multitel) e nas telecomunicações (Unitel e a ELTA).

Só que a cooperação luso-angolana não se pode ficar por estes sectores, se bem que importantes e estratégicos. As potencialidades de Angola, tanto no ponto de vista económico como, principalmente, no do humano, devem ser melhor aproveitadas. Não há dúvidas que os investidores portugueses desejam participar nos programas de investimento em Angola compartilhando "know how" ou os seus “pequenos capitais?”. Será que a Portugal falta capacidade, para sozinho, os apoiar? Nesse aspecto, se não quer, ou pode, aproveitar a emergente potencialidade que os parceiros angolanos parecem dispor, então o Brasil seria o melhor parceiro para Portugal. Falam a mesma língua, têm os mesmos conhecimentos da realidade angolana, para além dos brasileiros estarem já melhor engajados na economia angolana. Segundo o Jornal de Angola-online, há 50 grandes empresas brasileiras a operarem, em diferentes sectores económicos angolanos; no petróleo, nos diamantes, na construção, agro-pecuária, indústria, ensino, saúde, ou ainda nos transportes; alguns dos sectores em que os brasileiros poderiam ser aproveitados como pontes de entrada em Angola. Assim os investidores portugueses saibam aproveitar."




E assim se vão desperdiçando oportunidades de ouro (muitas vezes literalmente!) de desenvolvimento mútuo com as ex-colónias, com as suas possibilidades imensas de mercados, de construção de infra-estruturas, desenvolvimento industrial sustentável, recursos naturais, etc. Tudo isto num quadro humano que nos seria extremamente favorável, tanto por motivos históricos como também pela empatia natural entre portugueses e africanos. Há algo que é pouco referido mas que assume grande importância quando se pensa implementar os investimentos no terreno: perguntem a qualquer africano das ex-colónias quem prefere a investir no seu país, se chineses, americanos, franceses, espanhóis, belgas ou esquimós, que a resposta vai ser quase sempre invariavelmente a mesma, por-tu-gue-ses! Fomos colonizadores, sem dúvida! Mas preconizámos uma das colonizações menos sangrentas da história da humanidade e, acima de tudo, tivémos uma capacidade que mais nenhuma demonstrou em tão grande escala: misturar o nosso sangue com o dos povos colonizados. Os espanhóis dizimaram civilizações inteiras na América do Sul, os ingleses fizeram o mesmo na Austália, assim como os emergentes americanos com os índios nativos, mas nós, grandes responsáveis é certo pela exportação de escravos para o Novo Mundo, tivémos contudo essa característica mais humana do cruzamento sem preconceitos.

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