20 de janeiro de 2011

A campanha suja. Por Daniel Oliveira.

A propósito das suas relações com o BPN, que depois de meses ignoradas são tema de debate, Cavaco Silva diz que não responde a "campanhas sujas". Já ouvimos isto de um primeiro-ministro que, de cada vez que o rigor dos seus procedimentos esteve em causa, se fazia de vítima. Nada de novo. Sobre o tema, escreverei um dia destes: dizer que fala verdade vale pouco quando muitas coisas ainda estão por explicar.

Falemos então de "campanhas sujas". É que neste país ainda há quem tenha memória. Não foi há muito tempo que lemos, num jornal, a descrição de um encontro entre o assessor de imprensa da Presidencia da Republica e um jornalista numa pastelaria de Lisboa, em que o primeiro tentava convencer o segundo de que o governo estava a espiar o Chefe de Estado. Quando a acusação, sem qualquer fundamento comprovado, se soube, Belém fez uma insinuação ainda mais grave: que a Presidência estaria sob escuta. O absurdo acabou numa comunicação estapafúrdia de Cavaco ao País em que estava deixava cair mais uma suspeita: estariam os computadores de Belém seguros? Fernando Lima passou para os bastidores mas nunca foi demitido, ficando evidentes as responsabilidades de Cavaco Silva neste episódio surreal.

A gravidade das acusações era enorme. Um órgão de soberania fazer constar que o governo escutava e espiava o Chefe de Estado não é coisa pouca. Num país normal levaria ou à demissão do governo, se fosse verdade, ou do Presidente, se se tratasse de uma acusação sem fundamento. No caso, percebemos todos de onde vinha a delirante paranóia.

Por isso, se Cavaco Silva quer falar de campanhas sujas seria bom olhar para a sua própria casa. É que não precisamos de nascer duas vezes para perceber que, mesmo com o seu talento para representar o papel de sonso do regime, não lhe faltam credenciais na matéria. Para saber que não hesita em criar um grave incidente institucional para tentar lançar suspeitas sobre o vizinho do lado. Assim, em vez da vitimimização, pode começar a explicar, com uma resposta que se entenda, a relação da sua candidatura de há cinco anos com o banco que nos afunda e a tão pouco ortodoxa compra e venda de acções da SLN. É que quem não se quer sujar tem cuidado com as companhias que escolhe.

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