4 de junho de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Sétimo Capítulo.

Cidades que Pensam


Desenhando o Futuro


Os governos de vários países do mundo despendem imenso tempo e recursos na tentativa de manterem as nossas actuais cidades actualizadas, o mesmo acontecendo com as estradas e sistemas de transportes. Os custos associados de operação e manutenção são elevados, revelando-se muitas vezes ineficientes. Revela-se menos oneroso construir novas cidades a partir da estaca zero do que recuperar e manter as existentes, uma vez que essa opção é mais eficiente e com menores custos. Do mesmo modo, revela-se mais adequado implantar métodos de produção que utilizem tecnologia de ponta do que tentar actualizar fábricas com processos obsoletos.

Para obtermos um mundo sem poluição e desperdício, mas mantendo parques naturais e infantis, centros de arte e música, escolas e centros de saúde acessíveis a todos e sem um preço a pagar, temos de estar dispostos a introduzir profundas alterações na forma como planeamos as nossas cidades, assim como nos nossos estilos de vida.

Para acompanharmos a entrada neste novo sistema faremos um teste com uma cidade-piloto, que testará os parâmetros de projecto propostos e que providenciará as eventuais necessárias alterações. Esta nova direcção social pode ser promovida em variadas frentes como livros, revistas, televisão, rádio, seminários, peças de teatro e parques temáticos. Podemos ainda projectar e experimentar edifícios com processos automatizados para a cidade seguinte.

As inovadoras cidades circulares multi-dimensionais combinam as mais sofisticadas técnicas de construção e de aproveitamento de recursos disponíveis e o seu arranjo circular geometricamente elegante, rodeado por parques de lazer e jardins, é concebido para operar com o mínimo consumo de energia possível para obter o mais alto nível de vida para todos. Este tipo de cidades utiliza assim o melhor da tecnologia limpa em harmonia com a ecologia local.

O projecto e desenvolvimento destas novas cidades enfatizam de resto a recuperação e protecção do meio ambiente, levando à compreensão de que a tecnologia sem preocupação pelo ser humano não faz qualquer sentido.

As novas cidades providenciarão uma atmosfera de ar e água puros, cuidados de saúde, nutrição adequada, entretenimento, acesso à informação e educação para todos sem qualquer tipo de descriminação. Haverá centros de arte e música, lojas automatizadas completamente equipadas, laboratórios de ciência, áreas de desporto e lazer e ainda áreas de produção dos bens necessários. Estas novas cidades providenciariam também todas as formas de recreação dentro de uma curta distância relativamente ao bairro residencial, reciclagem de desperdícios, sistemas de geração de energia limpa e reciclável, sendo todos os serviços geridos de forma integrada e automatizada. Já a gestão da vida pessoal de cada um, assim como das suas preferências pessoais e estilo de vida, a cada indivíduo caberá.

Algumas cidades podem ser circulares enquanto outras poderão ser lineares, subterrâneas, ou construídas como cidades flutuantes em pleno mar (cidades de que falaremos mais adiante). Muitas das cidades serão desenhadas como sistemas fechados auto-suficientes, muito semelhantes a navios de cruzeiro preparados para uma viagem de seis meses, contendo residências, teatros, parques de diversão, centros de entretenimento, centros de saúde e de educação, assim como todos os requisitos para um ambiente total de vida normal. Tudo nestas cidades estaria o mais perto possível do referido sistema fechado, dentro das condições próprias do local e visando a auto-sustentabilidade. Em localizações mais a norte poderá haver a necessidade de estabelecer cidades parcialmente subterrâneas.

No planeamento destas cidades os computadores ajudarão a determinar qual o desenho mais eficaz, tendo por base uma análise exaustiva das variantes do ambiente existente e das necessidades humanas a suprir. As características da população existente numa determinada área, por exemplo, ditarão quantos hospitais e escolas serão construídos e o equipamento necessário a essa construção. Alguns dos sistemas médicos serão móveis enquanto outros serão pré-fabricados no mar e em terra firme. Eventualmente, cidades inteiras poderão ser de forma automatizada montadas no local a partir de secções standardizadas e pré-fabricadas produzidas em fábricas com muito pouca intervenção humana. Através deste método de aproximação sistemático poderemos disponibilizar um alto nível de vida para toda a população no mais curto período de tempo possível.

Este método permite ainda uma enorme flexibilidade no desenho das cidades, aproveitando também as vantagens de unidades intercambiáveis que podem dar às cidades novas e diferentes aparências, dependendo apenas da forma como são usadas e dispostas. Cada cidade é única e não reduz a vida das pessoas a um nível de mera subsistência, antes proporcionando todas as comodidades que a ciência e tecnologia modernas possibilitam. Mesmo a pessoa mais rica no passado não conseguiria atingir com o seu dinheiro os níveis de conforto que são aqui propostos, o que contribuirá para a segurança em geral e paz de espírito em particular.

As estruturas serão fabricadas com os mais recentes materiais, como os painéis tipo sanduíche semi-flexíveis com interior em espuma isolante e exterior em cerâmica vidrada, que permitem as contracções e expansões resultantes das variações de temperatura sem fracturar e sem manutenção posterior. Outra vantagem destes painéis é que podem ser produzidos em massa numa questão de horas. As construções erigidas com este material não sofrem praticamente estragos, quer se trate de um terramoto, de um furacão, de um incêndio ou até de térmitas. As janelas serão controladas electronicamente para iluminar ou sombrear o interior de acordo com as necessidades de luz e temperatura e serão equipadas com sistemas de limpeza controlados por computador, o que dispensa mão-de-obra humana nessa tarefa.

As tecnologias mais inovadoras permitem a conservação de recursos em regiões menos desenvolvidas, sem sacrifício das comodidades da vida avançada que se pretende atingir e é somente através dessas inovações e tecnologias que o nosso objectivo último de conseguir um alto nível de vida para toda a raça humana pode ser atingido.

Estas cidades do futuro coordenam a produção e distribuição, operando uma economia equilibrada para que não haja nem excesso nem escassez de produção. Para que tal equilíbrio se consiga atingir e em bom funcionamento, será necessário um “sistema nervoso” autónomo (com utilização de sensores ambientais) integrado em todas as áreas do complexo social.

Na cintura agrícola por exemplo, aquela área responsável pela produção de todos os bens alimentares oriundos directamente da terra, sensores electrónicos introduzidos no solo fornecerão informação constante sobre a quantidade de água, condições do solo a nível dos nutrientes essenciais, etc, despoletando esse sensores e o conjunto integrado de gestão as correspondentes acções de colmatação do que se encontrar em falta sem a necessidade de intervenção humana, independentemente das condições atmosféricas. Este método de vigilância electrónica automática seria aplicado a todo o sistema da cidade, desde edifícios a tratamento de resíduos.

As cidades funcionariam como organismos integrados evolutivos, ao invés de estruturas estáticas, uma vez que o seu desenho e projecto se adapta às mudanças que tiverem de ser introduzidas e que podem ser variadas. Estes ambientes totais, ou sistemas fechados, permitem no fundo a mais larga gama de individualidade e criatividade para aqueles que neles habitam porque são abertos a várias opções possíveis.

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