4 de março de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Introdução.

Um futuro pelo Design.


Estás preparado para desenhar o futuro?

Embora muitos de nós sintam que nos podemos preparar para o nosso futuro através do pensamento, da acção e da aprendizagem através dos métodos e valores actuais, nada está mais longe da verdade – especialmente no mundo actual em constante e rápida mudança. Um recém-nascido chega a uma realidade que não foi por ele forjada. Cada geração sucessiva herda os valores, as conquistas, as esperanças, os sucessos e também os falhanços das gerações anteriores. Herdam assim os resultados das decisões tomadas por essas gerações passadas.

Durante as centenas de milhares de anos da existência humana, quando as tecnologias eram mais simples ou pura e simplesmente não existiam, não houve grande impacto da nossa existência sobre o planeta que a sustenta. Cada geração de caçadores e recolectores, e mais tarde de lavradores e pioneiros da civilização como hoje a conhecemos, foi passando de geração em geração ferramentas e conhecimentos que lhes permitiram sobreviver de forma cada vez mais simples. A mudança de uma geração para a seguinte era lenta e quase imperceptível. Nesses tempos remotos a ciência e a explicação de como as coisas funcionavam eram praticamente inexistentes, logo as explicações sobre determinado fenómeno eram tudo menos científicas.

Essa já não é a situação nos dias de alta tecnologia de hoje, onde uma alteração que por vezes afecta milhões de pessoas pode acontecer em escassos segundos. Uma criança nascida hoje em dia herda um mundo radicalmente diferente daquele que presenciou o nascimento dos seus pais e da sua geração. As gerações precedentes deixaram um legado de exploração, ocupação e valores irrelevantes que pressentem grandes desafios de mudança, mas também grandes oportunidades para as pessoas que hoje habitam o planeta.

A aplicação dos princípios científicos, para o bem e para o mal, contabiliza-se em cada avanço que melhorou a vida das pessoas. Importantes documentos e proclamações foram publicados para garantir os direitos e privilégios dos membros das várias sociedades, mas no cerne do progresso humano – ou da sua destruição – encontra-se a origem da ciência. Durante gerações era muito difícil delinear o futuro muito para além do momento presente e as previsões sobre esse futuro eram baseadas em métodos não-científicos, como era o caso das visões de profetas e adivinhos baseadas em sonhos, alucinações, fervor religioso, leitura de entranhas de animais, bolas de cristal, etc. Algumas dessas previsões até poderiam estar correctas, mas isso devia-se mais ao factor sorte do que a qualquer ligação directa com o sobrenatural e o oculto.

Actualmente temos satélites que orbitam a terra, enviando informações constantes em fracções de segundo acerca de tudo o que se relaciona com as nossas vidas. Essa informação é valiosa para determinar comportamentos meteorológicos, topográficos, pontos geológicos quentes e frios, as áreas habitadas e, mais recentemente, a questão do aquecimento do planeta. Este tipo de tecnologia possibilitou pela primeira vez a capacidade de acompanhar a saúde do planeta, que muitos cientistas vêem como uma situação muito séria, senão mesmo crítica.

No decurso de apenas um dia, triliões de bits de informação científica atravessam o ciberespaço à velocidade da luz, possibilitando a existência de uma civilização de alta-tecnologia. Enquanto a ciência física e a tecnologia dirigem silenciosamente grande parte da acção, milhões de pessoas à volta do globo continuam a praticar a pseudo-ciência, utilizando adivinhos, videntes e filósofos para a sua orientação diária na vida. Muitos líderes mundiais continuam também a utilizar parapsicólogos, médiuns e astrólogos como guias para tomar decisões que afectam o destino de milhões de pessoas em todo o mundo.

A actual actividade humana e as suas consequências não têm de continuar a ser moldadas pelas necessidades e valores dos nossos antepassados. De facto, tal não pode continuar a acontecer. Os conflitos armados entre nações, por exemplo, continuam a ser vistos por muitos como a única solução para dirimir desentendimentos, sendo especialmente promovidos por aqueles que lucram astronomicamente com a venda de armamento. Esta situação já é absolutamente inaceitável, embora ocorra continuamente, tanto pelos custos em vidas humanas envolvido como pelos custos ambientais associados.

O ponto de vista militarista torna-se ainda mais obsoleto quando percepcionamos o mundo como um todo interrelacionado e todos os seus habitantes como uma grande família. Gerir mudanças cada vez mais rápidas na tecnologia, assim como gerir-nos a nós próprios e o nosso destino, requer novas perspectivas e abordagens. Isso é agora mais necessário e possível devido precisamente à evolução tecnológica.

Estas considerações são tecidas para desafiar o leitor a dirigir o futuro, não apenas o seu próprio futuro, mas aquele da sociedade em geral e também das gerações futuras, facto mais do que nunca tornado possível pela ciência mas, mais do que isso, um facto vital para o futuro da própria humanidade nos dias que correm.

Sem comentários: