12 de março de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Segundo Capítulo.

Todas as coisas acabam por mudar.

No universo dinâmico em que vivemos todas as coisas acabam por mudar, desde as conquistas mais longínquas no espaço sideral até ao movimento dos continentes. A mudança ocorre em todos os sistemas, vivos e inanimados. A história da civilização é feita de mudança, da mais simples à mais complexa, embora a ingenuidade e o poder de invenção humanos mal possam testemunhar este facto. Nenhum sistema pode permanecer estático por muito tempo. A maior parte das monarquias foi substituída por outros tipos de governo e as sociedades baseadas na vontade do povo evoluíram. Infelizmente porém, as mudanças nem sempre foram para melhor e, embora enquanto humanos aceitemos a inevitabilidade da mudança, revelamos sempre grande resistência a essa mudança.

Na maior parte das vezes a mudança ameaça directamente aqueles que se encontram em posição de vantagem, encontrando-se por príncipio esses elementos da sociedade nessas posições precisamente para manter as coisas exactamente como elas estão, para manter o já referido status quo vigente. Maior resistência portanto revelarão face à mudança que se assoma. Esta é uma verdade que se aplica a todas as sociedades, quer sejam baseadas em estruturas religiosas, militares, socialistas, capitalistas, comunistas, fascistas ou ainda tribais. Os líderes tentarão sempre refrear mudanças que não sejam por eles implementadas e por vezes, mesmo quando as condições de vida são terríveis para a maioria da população, é essa mesma população que pode resistir à mudança pelo facto de ser mais confortável mentalmente permanecer num sistema que é já familiar e interiorizado. Vamos referir-nos a eles como os guardiães não nomeados do sistema.

Contudo, independentemente do número de pessoas que possa resistir a uma mudança, a civilização humana não constitui uma excepção à fatalidade da mudança. A mudança ocorre em todos os sistemas sociais e neles é a única constante, pelo que podemos estar seguros de que a história da humanidade é também a história da mudança.

Não obstante, e a cada pequena alteração de rumo, os interesses instalados (aqueles que mais têm a ganhar com a manutenção do estado das coisas como estão) opõem-se até a mudanças meramente tecnológicas. Tomemos por exemplo o início do século XX, quando os defensores da cavalaria militar com recurso exclusivo ao cavalo atrasaram deliberadamente o desenvolvimento dos tanques de guerra. A tradição estava tão enraizada que, quando a Alemanha invadiu a Polónia em 1939, a sua divisão de tanques enfrentou os polacos ainda montados em cavalos.
Era óbvio que os soldados montados em cavalos nada podiam fazer contra os blindados alemães, assim como o desenvolvimento da aviação veio mais tarde a ameaçar fortemente as divisões de tanques vitoriosas. Mais tarde foi a vez dos pilotos de caças e engenheiros aeronáuticos combaterem o aparecimento dos mísseis teleguiados, cujos defensores tentam agora atrasar o desenvolvimento das armas de laser. O mesmo vai certamente acontecer com qualquer nova arma que se apresente como alternativa.

Se nos interrogarmos porque estamos ainda a braços com muitos dos problemas com que se deparavam os nossos antepassados, quando a nossa tecnologia se encontra muito mais avançada, devemos considerar que, no fundo, estamos com consciência no mundo há relativamente pouco tempo tendo em conta a idade do próprio planeta. Se recorrêssemos a um relógio de 24 horas para representar o tempo desde que a vida começou no planeta terra, veríamos que a espécie humana apenas aparece no último minuto dessas 24 horas e apenas durante os últimos escassos segundos desse último minuto é que os humanos modernos começaram a usar métodos científicos para determinar as maneiras mais eficazes de fazer as coisas que nos são necessárias. Estamos apenas no começo de uma era em que as nossas passadas adquirem maior alcance. Só no século XX foi produzido mais conhecimento novo do que em todos os séculos que o antecederam. A mudança está praticamente em todo o lado.

Se por vezes a vida nos parece confusa – se te sentires puxado em muitas direcções por exemplo, se achares que por mais que te esforces não consegues alterar nada do que te rodeia ou se consideras que a nossa economia, a política e a sociedade em geral criam mais dificuldades do que soluções – então não tenhas dúvida que apenas estás a desempenhar o teu papel de sofredor que presentemente percorre uma fase de transição na nossa civilização.

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