1 de outubro de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Nono Capítulo.

Um Novo Respeito pela Teia da Vida.

Com a economia baseada nos recursos vêm novos sistemas de valores. Uma vez que ninguém tira proveito financeiro das práticas funestas de exploração do passado, o principal objectivo passa a ser reclamar e manter um ambiente saudável e produtivo. Se os oceanos forem geridos com inteligência podem facilmente fornecer recursos mais do que suficientes para alimentar os esfomeados de todo o mundo. Biliões de seres humanos poderiam depender exclusivamente dos oceanos, onde a vida é abundante e variada, como a sua fonte principal de proteínas. Embora a esmagadora maioria da vida marinha habite perto da superfície, nas profundezas frias das águas onde nem o Sol consegue penetrar a vida também abunda, apesar precisamente das fantásticas pressões e temperaturas que aí se encontram. Mesmo nas áreas onde as temperaturas praticamente congelam qualquer ser vivo, respiradouros borbulhantes de gases tóxicos suportam a vida de uma grande variedade de vida marinha que não se encontra ainda convenientemente estudada ou avaliada.

Rios imensos, chamados correntes oceânicas, percorrem os oceanos do planeta movidos pela sua rotação constante. Estas correntes imensas viajam a velocidades variáveis, a diferentes profundidades e até mesmo em direcções por vezes opostas. Estima-se que, só a Corrente do Golfo transporta cerca de 30 milhões de metros cúbicos de água por segundo, passando por Miami, no Estado da Florida. Isto representa mais do que cinco vezes a corrente combinada de todos os rios de água doce do mundo.

Estima-se que o aproveitamento desta enorme energia potencial geraria perto de mil milhões de Watt durante 24 horas por dia, o que equivale à energia eléctrica produzida por duas centrais nucleares de grandes dimensões, sem qualquer contaminação ambiental ou perigo de radiações.

Para além disso, os ventos poderosos que ocorrem em muitas áreas do planeta, as ondas e outras correntes de menor dimensão podem fornecer-nos imensas fontes potenciais de geração de energia eléctrica. Podemos ainda colher energia da biomassa, convertendo desperdícios e lixos orgânicos em gás ou combustíveis líquidos através da fermentação desses resíduos. Imagina uma grande pilha de comida e outra matéria orgânica em decomposição e libertando calor e gases. Esta potencial fonte de energia pode ser aproveitada e canalizada desde que seja aplicada a tecnologia apropriada.

Nos leitos marinhos e nas próprias fendas submarinas carregadas de salmoura há vastas jazidas de metais e minerais que podem ser usados para resolver a escassez de recursos nessa área específica. Contudo, a recolha desses recursos minerais requer novas tecnologias que não perturbem a frágil vida marinha aí existente.

Estas são apenas algumas das grandes áreas energéticas que podem ser exploradas nos nossos oceanos, mas que podem tornar ainda mais excitantes e viáveis os projectos para as Cidades nos Mares.


Cidades no Mar.

A colonização dos oceanos é uma das últimas fronteiras por conquistar restantes na Terra. As comunidades em prodigiosas cidades oceânicas são inevitáveis e estarão entre os grandes feitos atingidos por uma nova sociedade.

Para podermos utilizar completamente este manancial benéfico de recursos devemos primeiro desenvolver grandes estruturas marinhas que permitam explorar as pouco utilizadas riquezas do mundo oceânico. Estas estruturas permitirão uma cultura piscícola melhorada e eficiente, produção de água doce potável, energia e minério que compensará as falhas das minas sedeadas em terra firme. Os oceanos podem fornecer riquezas praticamente infinitas na farmacêutica, na química, nos fertilizantes, minerais, petróleo, gás natural, água doce e também energia extraída das marés e do vento, apenas para referir algumas dessas riquezas potenciais. Sensores colocados na atmosfera e no oceano mediriam constantemente a força das marés, monitorizando também a vida marinha, a composição da água e sua temperatura, as condições atmosféricas e uma miríade de outros sinais vitais.

O desenvolvimento destas comunidades oceânicas iria por outro lado aliviar grandemente a pressão exercida pelos aglomerados populacionais presentes no território terrestre. A população presente nessas comunidades poderia variar entre as várias centenas e os muitos milhares de pessoas e poderiam encontrar-se distribuídas por todo o mundo. A sua gestão, controlo e operação geral seriam assegurados por sistemas automatizados, semelhantes aos já descritos anteriormente, englobados na rede de comunicações internacional. Os oceanos são, no fundo, essenciais para a nossa sobrevivência e uma parte importantíssima da capacidade produtiva sustentável da Terra.

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