31 de julho de 2009

Uma triste estória de vida...

O relato que se segue, apanhado no Mais Évora, merece aqui destaque por estar devidamente assinado, com número de telefone disponibilizado e tudo, e por ser de alguém que viveu por dentro essa máquina pútrida que é um partido político . Apreciem.
"História de vida…
Dado que tenho visto neste blog algumas histórias de desemprego cá vai a minha com algumas reflexões. Chamo-me Joaquim Caeiro, tenho 42 anos e vivo em Évora. Histórias há muitas e a minha é só mais uma no meio de tantas, triste como tantas outras. Desiludido com a vida com tudo e com todos. Sou licenciado em biologia e mestre em hidrobiologia. Trabalhei 10 anos na Universidade de Évora, como investigador e muitas aulas em nome de outros sem as receber. Depois de 20 anos da minha vida a estudar e a trabalhar para pagar os meus estudos. Num dia de 2002 chegou a notícia, o meu contrato não seria renovado, depois de 10 anos vários contratos e recibos pelo meio promessas de entrada para o quadro, enfim o normal neste nosso triste país. Não deveria ser normal mas como tantos milhares, bem sabemos que é o normal. Família e uma filha para criar não desisti, não baixei os braços, fui à luta e com ilusão e apoio do Centro de Emprego criei uma empresa, um laboratório de análises de água, uma microempresa. Endividei-me até onde não podia e resisti até onde pude com a ilusão de que tudo pudesse melhorar, mas não era possível, tive de fechar, os “tubarões” engolem os pequenos. Ficaram as dívidas, os créditos, as penhoras, perdi tudo a empresa a casa a família. A minha formação, para além de especialista em análises de água e em legislação associada, especializei-me numa área em que não existem mais de 10 pessoas em Portugal, cianobactérias e toxinas que produzem. Faço, ou melhor fazia, identificação e quantificação destes microorganismos e das toxinas que produzem. Existem em água doce, barragens e rios, e em certas circunstâncias produzem toxinas nocivas ao ser humano. Para além disso fiz também investigação em limnologia, que é o estudo dos ecossistemas de água doce, nas vertentes química, física e biológica, com vários trabalhos publicados. Poderão dizer-me “mas como chegou a essa situação? Porque não arranja emprego? Com tanta qualificação e formação não deve ser difícil”. Pois eu também pensava o mesmo mas a verdade é que tenho 42 anos. Tenho tentado tudo, centenas de candidaturas, envios de CV, tudo há quase um ano, incluindo empregos que nada têm a ver comigo, nem uma resposta, nem uma só. Dos tempos da Universidade conheci muita gente que se diz importante, o presidente actual da Câmara de Évora (Verão de 2001, a história da contaminação da água com notícias em TV e jornais, lembram-se? e que foi o primeiro impulso da pré-campanha do Dr. José Ernesto) o director geral de saúde, o director da segurança social do distrito, vereadores, deputados, de muitos tenho o contacto e falo com eles. Um dia alguém me disse: “tens de entrar para o partido, podes precisar de alguma coisa eles ajudam”. Um erro mais um erro na minha vida. Entrei para o P.S. não por me terem influenciado, por convicção de que poderia contribuir com algo positivo. Percebi então que as pessoas que conhecia fora do ambiente do partido não eram as mesmas lá dentro, as hipocrisias, as mentiras, o seguidismo, o clientelismo, tudo se está nas “tintas” para o país, o que interessa são as carreiras e os interesses pessoais. Não sei como é nos outros mas no P.S. é assim. A todos pedi ajuda um emprego uma oportunidade só isso, não dizem que não, só que é difícil e conversa de “treta”, o costume, tipo vai mandando postais. Mesmo alguns, a quem um dia ajudei e muito, mas isso é outra história. A minha desfiliação vai a caminho.Agora não me venham com a conversa que o país precisa de mais pessoas com formação. Não precisa. Este país é dos incompetentes, das cunhas, não é preciso competência nenhuma, só é preciso, conhecer alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, só isso. E às vezes nem isso, como no meu caso. Por isso estamos assim. Tudo gira em volta do dinheiro, quem manda é quem tem dinheiro, os políticos limitam-se a fazer a gestão dos interesses dos senhores do dinheiro, e aqui neste miserável país, quem manda são os donos das empresas de construção e os banqueiros. Esses são os que mandam e basta analisar com alguma distância o que se tem passado, os escândalos de que se fala ultimamente para perceber que tudo funciona em volta dos interesses do dinheiro. E tenho a impressão que o que vem a público é só a ponta do icebergue, agora imagine-se o icebergue inteiro e podemos ver onde estamos metidos. Vê-se a arrogância com que o PM respondeu num debate não há muito tempo quando Francisco Louçã o interrogou acerca do BPN e lhe respondeu que enfatizava a palavra BANCOS. Pois os que têm o poder, e não distingo estes dos anteriores, que se limitam a fazer o que lhes mandam e que quando deixarem o poder já têm o lugar garantido cá fora, numa empresa que ajudaram e onde vão ganhar muitos milhares. E é assim que se vai enganando o Zé-povinho. Por mim falo do que conheço e “cheira-me” que o actual PM já tem o lugar garantido algures nas Águas de Portugal… é só um palpite…A denúncia. Pois resolvi inscrever-me no Centro de Emprego para ver o que dava. E deu ao fim de cerca de 2 meses uma carta em correio azul. Mais um estratagema para reduzir o número de desempregados. E dizia que tinha um prazo de 10 dias para devolver em caso de continuar desempregado, senão cancelariam a minha inscrição. E já agora lamentavam o facto de não me terem arranjado colocação. Agora imagino os milhares que não vão devolver a referida carta e já se vê que lá vão desaparecer mais uns milhares de desempregados…é só mais um palpite…Por mim por aqui me fico a pensar na vida e sem saber que fazer, no limiar da insanidade mental e a beira de uma loucura mas tudo passa o tempo tudo apaga…Por último deixo uma reflexão que gosto de fazer e que muita gente me critica por a fazer. O problema de Portugal, para além dos roubos e da gastadeira que se viu depois dos descobrimentos (e eu que nem sou grande adepto de história de Portugal) em que o povo vivia na miséria, pois o problema de Portugal foi o 1º de Dezembro de 1640… talvez se não tivesse existido esse dia tudo seria diferente basta olhar para o lado e ver como Espanha se desenvolveu em 30 anos…Com os melhores cumprimentos e que me perdoem o testamento e o abuso, Joaquim Caeiro.
P.S. O desespero é grande, a alguém que possa interessar, preciso de emprego (trabalho), qualquer coisa mesmo, administrativo, informática, sei lá, em que possa ser útil. Contacto joaquim.caeiro@gmail.com ou 964925031.
P.S.1 Não tenho vergonha nem medo de dar a cara e dirijo-me a todos os que para aqui vêm em anónimo, tenham coragem porque este país precisa de pessoas com coragem não de anónimos."

3 comentários:

Maria disse...

Podes ter a certeza que vou fazer chegar este texto ao Gabinete do primeiro ministro.

:)

samuel disse...

Espero bem que deste texto inquietante resulte alguma coisa positiva. Pudesse eu fazer alguma coisa...

Abraço.

vermelho disse...

Maria Manuela:

Isso é que era assunto amiga! Vai ser fácil contactar o Senhor...
Beijo na testa.


Samuel:

Ficaria muito contente se assim fosse. Ajudar também eu gostaria, mas os meus "conhecimentos" são fracos...
Abraço.