27 de maio de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Quinto Capítulo.

Transição de um sistema para o outro.

A transição – Sinais dos tempos.
A maioria das pessoas não procura ou não ambiciona uma ordem social alternativa até ao momento em que o seu próprio emprego, logo a sua subsistência, ficam em perigo ou desaparecem. A mudança de um sistema tão arreigado na nossa cultura como é o do dinheiro apenas ocorrerá possivelmente mediante o colapso desse actual sistema, embora algumas coisas que hoje estão a acontecer sejam já sinais de que esse colapso está irreversivelmente em marcha:

As nações mais industrializadas do mundo estão a instalar cada vez mais tecnologia automatizada de forma a conseguirem competir com os baixos preços da economia globalizada. O resultado destas acções de automatização reflecte-se directamente no aumento galopante do desemprego, impossibilitando essas pessoas de tomarem conta de si próprias e das suas famílias. Com a automação e a cibernetização implantadas no seu potencial máximo, as máquinas substituirão não apenas os trabalhadores industriais, mas muitos dos trabalhadores hoje com funções a desempenhar. Consequentemente, haverá cada vez menos pessoas com capacidade financeira para adquirir os produtos feitos por essas máquinas.

A demanda contínua de execução de tarefas em regime de outsourcing e a implantação de fábricas em países onde a mão-de-obra é muito mais barata, onde não existem praticamente exigências ou preocupações ambientais, assim como outros benefícios associados à produção em massa, pode parecer uma boa opção estratégica no curto prazo, mas acabará por se revelar desastrosa. O mais provável é que nos países de origem dessas indústrias, a falta de rendimentos de uma larga maioria desempregada seja tão elevada e insolúvel que eles acabem por perder as suas casas e posses, ainda que parcas.

Um número expressivo de cientistas afirma que no ano 2030 ocorrerá uma drástica redução de petróleo de fácil extracção. O petróleo pode até não acabar, mas tornar-se-á concerteza impossível extrai-lo, tanto por razões económicas como mesmo físicas. Eventualmente virá mesmo a ser necessária mais energia para efectuar a extracção e a refinação do que aquela que o petróleo em si contém potencialmente, tornando obviamente inviável a sua utilização enquanto fonte de energia. O mesmo problema ocorrerá com o gás natural, mas com um prazo ainda mais curto para uma extracção viável.

Estas alterações na forma como obtemos actualmente energia irão provocar tremendas convulsões sociais e no próprio ambiente, enquanto as empresas se degladiam ferozmente para manter as suas margens de lucro e explorar cada vez mais a terra, a água e os outros recursos naturais. Talvez seja mesmo necessário o colapso do sistema monetário dívida/dinheiro para que a maioria das pessoas perca a fé nesse sistema. Após esse colapso e a sua perda de confiança final, poderão enfim examinar como opera uma economia baseada nos recursos e vislumbrar como poderá ser a vida numa sociedade dessas. Nos capítulos que se seguem daremos uma espreitadela aos processos envolvidos na nossa transformação e adaptação individuais a esta nova forma de vida, que nada tem de estranho como se verá.

Sem comentários: