14 de abril de 2009

"Desenhando o Futuro" por Jacque Fresco. Quarto Capítulo.

Analisando as condições que causam os problemas.

Pode também acontecer que o problema resida em qualquer outro lugar que não a promulgação de mais leis ou a designação de pessoas com valores éticos para os governos considerados acima. Talvez seja melhor analisarmos a forma como de momento obtemos e distribuímos os bens de que necessitamos para sobreviver.

O actual sistema baseia-se no dinheiro, seja pela troca do nosso tempo, aptidões profissionais e esforço pessoal, ou seja através de “investimento” no sistema financeiro com a finalidade de obter ainda mais dinheiro de volta, que depois se troca por bens e serviços. Este pode ter sido um bom método no passado, quando os bens que se podiam adquirir eram escassos e a tecnologia dava os seus primeiros passos mas, nos dias de hoje, com a tecnologia avançada de que dispomos, ela pode muito bem ser a ferramenta ideal para um cenário bem diferente.

Se olharmos para as coisas de modo científico, verificamos que há alimentos e bens materiais mais do que suficientes na Terra para todas as nossas necessidades, desde que geridas de forma correcta. Há, por exemplo, o suficiente para permitir a todos os habitantes do planeta um alto nível de vida com o uso inteligente da tecnologia, dos recursos e do pessoal técnico inerente à produção. Mas atenção, quando falamos aqui de tecnologia, referimo-nos sempre a tecnologia que não seja nociva nem para o ambiente nem para as pessoas e que não desperdice tempo ou energia.

Pensa nisto: quando há uma recessão económica e as pessoas têm pouco dinheiro para comprar coisas, não continua a Terra a ser o mesmo lugar? Não continua a haver bens de consumo nas prateleiras das lojas e terrenos para semear as colheitas? Sim! No fundo, são apenas as regras do jogo pelas quais somos obrigados a viver que estão obsoletas e que causam tanto sofrimento e privação.

A existência do dinheiro dificilmente é questionada ou sequer examinada, mas façamos agora essa análise. O dinheiro em si não tem qualquer valor, não passa de uma imagem num bocado de papel barato conjugado com um acordo tácito entre as pessoas sobre aquilo que ele pode comprar. Se amanhã chovessem notas de cem dólares toda a gente ficaria contente, excepto os banqueiros.

Existem muitas desvantagens no uso deste velho método de troca de dinheiro por bens e serviços. Iremos aqui considerar apenas alguns deles, ficando o resto da lista a teu cargo, imaginação e discernimento.

1. O dinheiro não passa de uma interferência entre aquilo de que realmente precisamos e aquilo que podemos obter. Não é de dinheiro que as pessoas precisam, mas sim de acesso a recursos.

2. O uso do dinheiro resulta em estratificação social e elitismo baseados à partida na disparidade económica.

3. As pessoas não são iguais sem igual poder de compra.

4. A maior parte das pessoas são escravas dos seus empregos, de que muitas vezes não gostam, apenas porque necessitam do dinheiro que eles podem trazer.

5. A necessidade do dinheiro apenas nos tem trazido ao longo dos séculos um aumento progressivo da corrupção, da ganância, do crime e das fraudes em grande escala.

6. A maior parte das leis são promulgadas para benefício directo das grandes corporações e multi-nacionais, as quais têm dinheiro mais do que suficiente para constituir poderosos lobbies, subornar, ou mesmo persuadir os membros dos governos a fazer leis que servem directamente os seus interesses.

7. Aqueles que controlam o poder de compra têm muito maior influência na sociedade.

8. O dinheiro é utilizado para controlar os comportamentos daqueles com um poder de compra mais limitado.

9. Os bens alimentares são por vezes destruídos nos chamados países desenvolvidos para manter os preços altos, uma vez que quando há escassez aumentam os preços.

10. Existe um tremendo desperdício de materiais e uma pressão enorme na exploração dos recursos existentes para responder a alterações, por vezes superficiais, de design em artigos que estão na moda, apenas para criar um mercado contínuo para os fabricantes. Os telemóveis são um exemplo paradigmático deste problema.

11. Enfrentamos uma degradação ambiental acelerada devido ao alto custo inerente a uma melhor gestão dos resíduos gerados pela indústria.

12. A Terra está a ser pilhada com o único objectivo do lucro puro.

13. Os benefícios da tecnologia apenas são distribuídos àqueles com poder de compra suficiente para a adquirir.

14. Mas, mais importante que tudo, quando o objectivo único das empresas é o lucro, as grandes decisões em todas as áreas não são tomadas para benefício das pessoas ou do ambiente, mas basicamente para a aquisição de mais riqueza, propriedade e poder.

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