9 de fevereiro de 2009

O crescimento dos altos salários está a acentuar as desigualdades.

"O economista e professor do Instituto Superior de Economia e Gestão Carlos Farinha Rodrigues diz que a distância entre quem ganha salários altos e quem está no nível mais baixo da tabela de remunerações é cada vez maior. Para uns, os ordenados aumentam a uma “velocidade supersónica” Para a grande maioria evoluem a passo de caracol. O investigador defende ainda que o combate efectivo à pobreza implica um modelo económico mais justo e uma política fiscal com maior capacidade redistributiva. (...) O economista e o investigador devem chamar a atenção para o que consideram ser os problemas da sociedade em que vive. Em Portugal temos uma das maiores taxas de pobreza e desigualdade da Europa mas não há uma grande consciência social. Por exemplo, a União Europeia publica anualmente um Eurobarómetro sobre os problemas que mais preocupam as pessoas. Para os portugueses, a pobreza e a desigualdade vêm em quinto, sexto ou sétimo lugar. Infelizmente, na nossa sociedade existe uma passividade e uma desculpabilização em relação a estes fenómenos. (...) Para grande parte dos trabalhadores portugueses, os nossos salários são muito inferiores à média europeia. Mas o salário dos dirigentes de topo das empresas (que hoje estão aqui e amanhã em Madrid ou em qualquer país do mundo) não é negociado tendo em conta o mercado de trabalho português. Estão noutro campeonato. São padrões que não são os nossos. (...) A emergência de novas formas de pobreza, ligadas à concentração urbana ou à toxicodependência, surge quando os factores mais tradicionais de pobreza já estavam resolvidos. Em Portugal infelizmente, a nova pobreza nasce quando ainda não tínhamos resolvido a pobreza tradicional, mais rural. Temos duas placas tectónicas de pobreza que se sobrepõem, dificultando a identificação das suas causas e das políticas sociais necessárias para a combater. São precisas várias formas de combater a pobreza e vários actores. Há um debate tolo sobre quem deve resolver este problema: se o Estado, se a sociedade civil. Têm de ser os dois. O Estado não se pode demitir das suas responsabilidades de através da política social e económica contribuir para uma sociedade mais justa. (...) Penso que mais do que falar em prioridades é importante que se considere como um todo o processo de criação da riqueza e da sua distribuição. Muitas vezes ouve-se dizer que é preciso criar primeiro a riqueza para depois esta poder ser distribuída. Não concordo com esta ideia. O modelo económico de criação de riqueza que existe é ele próprio criador de desigualdades e de pobreza. A actividade produtiva e o trabalho em particular devem ser encarados não somente numa perspectiva de eficiência mas também de equidade. Estou convencido que é possível caminharmos para um modelo que seja simultaneamente mais justo e mais eficiente. (...)"

Entrevista de Ana Rute Silva aqui.

Pois é, a eterna questão da distribuição da riqueza. Este economista não teve medo e disse o que deve ser dito. Se tem abordado os valores dos rendimentos dos gestores de Empresas Públicas teria de ter dito alguns palavrões em português vernáculo. É que não há quem se aguente com tanta injustiça!

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