29 de janeiro de 2009

Os principais objectivos da política externa dos Estados Unidos da América XXIII. Por Noam Chomsky.

As coisas mudaram.

É importante reconhecer o quanto o cenário mundial mudou nestes últimos trinta anos em consequência dos movimentos populares, que se organizaram de forma solta e caótica em torno de certas questões como os direitos civis, a paz, o feminismo, o meio ambiente e outros temas de interesse humano. Veja-se os governos Kennedy e Reagan, que foram semelhantes em muitos aspectos das suas políticas e compromissos básicos. Quando Kennedy lançou uma enorme campanha terrorista internacional contra Cuba, após a sua fracassada tentativa de invasão (Baía dos Porcos, em 1961), e quando passou de um terror de Estado assassino no Vietname do Sul para uma franca agressão, não houve então qualquer protesto que se notasse. Só quando centenas de milhares de tropas americanas foram enviadas para a Indochina, que estava sob um ataque devastador, e com o massacre de milhares de pessoas é que os protestos se tornaram um pouco mais do que minimamente significativos. Em contraste, assim que o governo Reagan insinuou que pretendia intervir directamente na América Central, protestos espontâneos brotaram numa escala suficiente para obrigar os terroristas de Estado a procurarem outro meios.
Os líderes podiam vangloriar-se com o fim do “Síndroma do Vietname”, mas eles têm juízo. Num
relatório sobre Política de Segurança Nacional da administração Bush, que ficou conhecido na época do ataque terrestre ao Golfo, podia-se ler que “nos casos em que os EUA enfrentarem inimigos muito mais fracos” – os únicos com os quais o verdadeiro estadista concordará em lutar –, “o nosso desafio não será simplesmente derrotá-los, mas derrotá-los de modo rápido e fulminante”. Qualquer outro resultado seria “embaraçoso” e poderia “minar o apoio político”, já percebido como bastante fraco.

Actualmente, a intervenção clássica já não é considerada uma opção. Os métodos limitam-se ao
terror clandestino, mantido oculto da população interna, ou à demolição “rápida e fulminante” de
“inimigos muito mais fracos”, após uma enorme campanha de propaganda, expondo-os como
monstros de poder indescritível. O quadro é quase sempre o mesmo. Veja-se o ano de 1992. Se o quinto centenário do descobrimento de Colombo tivesse sido em 1962, teria havido uma grande comemoração pela libertação do continente. Em 1992, essa expectativa não pôde ser monopolizada, um facto que causou muita histeria entre os dirigentes culturais, que estão acostumados a um controlo quase totalitário dos acontecimentos. Eles agora gritam contra os “excessos fascistas” daqueles que estimulam o respeito pelos outros povos e outras culturas. Em outras áreas também há mais abertura e entendimento, mais cepticismo e questionamento da autoridade. Logicamente, as últimas tendências são uma faca de dois gumes. Elas podem levar ao pensamento independente, à organização popular e a pressões mais que necessárias por transformações institucionais. Ou podem fornecer uma base popular de pessoas amedrontadas para novos líderes autoritários. Esses possíveis resultados não são assunto para especulação, mas para acção, e com enormes riscos.

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