2 de outubro de 2008

Porque emigram os portugueses?

Entre as razões que explicariam os contínuos fluxos emigratórios dos portugueses podemos destacar as seguintes:

1. Factor Geográfico. Portugal fica num extremo da Europa, entre a Espanha e o Mar. Os rasgados horizontes marítimos nas suas costas parecem ter estimulado nos portugueses o desejo de explorar o mundo, descobrir outras culturas. A Espanha, no lado oposto, lembra guerras, pilhagens, saques. A emigração na direcção do centro da Europa, é um fenómeno relativamente recente (segunda metade do século XX) e ocorre numa altura que os portugueses já estavam há séculos espalhados pelo mundo.

2. Miséria. Os portugueses emigram para fugirem à miséria e falta de trabalho que grassa nos campos e que as cidades não conseguem absorver. Nas regiões, como o Douro, Minho, as ilhas da Madeira e Açores, onde é mais notório o excesso de mão-de-obra a emigração surge como o recurso por excelência para resolver a falta de trabalho na agricultura e pescas. Analisando as descrições dos que emigraram entre meados do século XIX e os anos 70 do século XX, ninguém dúvida em subscrever que esta terá sido uma das razões que motivou a saída de alguns milhões de portugueses.

3. Tradição. A emigração é um tradição secular em Portugal. Na verdade, uma vez iniciada a emigração no século XV esta nunca mais parou. Um dos factores que estimulou a sua continuidade foi o facto de se terem criado em muitos pontos do mundo comunidades de portugueses que apoiaram os novos emigrantes estimulando-os a partir ou ajudando-os a fixarem-se no local. Por outro lado, em Portugal, numa qualquer família, há sempre um familiar ou amigo que emigrou e que pode prestar as informações necessárias para outro o fazer. Quando os problemas se avolumam no país, ou ocorre algum problema na vida, afirmam alguns analistas, o português não luta para os resolver, mas emigra. É mais fácil convencer um português a emigrar para a China, do que convencê-lo a mudar de residência para outra parte do país.

4. Fuga a perseguições religiosas e políticas. Entre princípios do séculos XVI e inícios do XX , tivemos ferozes perseguições religiosas a judeus e cristãos-novos portugueses. Muitos milhares foram forçados, para sobreviverem, a espalharem-se por todo o mundo. No século XX, as perseguições políticas que ocorreram entre 1926 e 1974, a que se juntou entre 1961-1974 a fuga de centenas de milhares de jovens ao serviço militar ajudaram a engrossar este caudal emigratório.

5. Missão Histórica. Um elaborado discurso ideológico desde o século XVI atribuí aos portugueses uma espécie de missão histórica: difundirem a cristandade pelo mundo (Luis de Camões, escreveu sobre este tema uma epopeia- Os Lusíadas). O Padre António Vieira retomou o tema com a ideia do Vº. Império. A emigração seria, neste aspecto, um instrumento deste desígnio nacional. No século XX, poetas como Fernando Pessoa, re-elaboraram esta explicação à luz dos valores contemporâneos, embora mantendo o seu esquema inicial.

6. Abertura de Horizontes. A situação geográfica de Portugal, num extremo da Europa, sempre provocou problemas de isolamento cultural. "As coisas chegam aqui com muito atraso", este é o lamento que se repetiu durante séculos e que explica a partida de muitos milhares de portugueses para o estrangeiro.



Texto de Carlos Fontes aqui.



Estamos esclarecidos? Agora, da próxima vez que ouvirem alguém atentar contra os imigrantes, façam o favor de lhe dizer que é uma vergonha nacional, ou então preguem-lhe uma boa lição de história...

2 comentários:

Maria Manuela disse...

O meu irmão está há um ano na Irlanda e eu estou só à espera de uma oportunidade para sair daqui também.

Portugal já não é viável !!!

vermelho disse...

Olá querida, obrigado pela tua visita! Pois é, esta Mátria madrasta que arrasta continuamente os seus filhos para a diáspora. E agora, os primeiros a sair são aqueles com mais valor. Fica a perder o país... Mas tenho a sensação que a Irlanda é muito fria e húmida para ti. Parece-me que o teu destino será mais para os lados da terra da Rainha Ginga... Estou enganado?
Beijo na testa.