Por ser de uma qualidade imensa e por ter autorização expressa do autor, reproduzo aqui um post (cá em casa é uma lenha, como se pode ver amontoada ali do lado direito...) retirado do blog de Samuel que me faz sentir que, no meu sentir, não estou sozinho. O meu obrigado ao autor com a devida vénia.
"A incapacidade do capitalismo para controlar os delinquentes que ele próprio cria, uns arvorados em neoliberais, outros apenas bandidos, provocou, como todos sabemos, mais uma crise no sistema. Desta vez a coisa foi assustadora para a classe dominante. Independentemente de muitos deles não terem parado de ganhar dinheiro a rodos, o espectáculo de bancos a falir, ou a serem “nacionalizados”, ainda que por pouco tempo, deixa-os num estado de nervos caótico.
De qualquer maneira, o pior de tudo, foi começarem a ouvir por todo o lado gente até aí muito sossegada, que inesperadamente começou a ventilar a hipótese de o sistema estar falido, de as teses daquele barbudo Marx terem sido prematuramente declaradas como mortas, de ser preciso mudar de sistema económico, de ser, talvez, interessante, voltar a ouvir com uma nova atenção as propostas dos partidos que, por todo o mundo, já o diziam bem antes de chegar a crise...
Foi o pânico! Houve que lançar mão de tudo. Fazer com que as pessoas não se sintam seguras em nenhum emprego. Fazer com que fiquem agradecidas por o terem. Fazer com que haja sempre uma fila interminável de candidatos a meia dúzia de postos de trabalho, constituída por gente disposta a tudo para os conseguir. Deixar avolumar o sentimento de insegurança até ao ponto de, para além de agradecidos aos patrões, os cidadãos começarem a sentir-se mais seguros rodeados de polícia e dispostos a abdicar de liberdades e direitos. Culpar os pobres pela sua situação. Culpar os imigrantes, os árabes, os pretos, os sindicalistas, os comunas... tudo, menos a sacrossanta economia de mercado.
Na dúvida e para aliviar o stress social que todas estas medidas provocam, é preciso apostar forte na alienação. De forma milionária. Atirando milhões e milhões para cima de miúdos, com o pretexto de serem “desportistas”. Inundando as televisões com toneladas de novelas e programas de entretenimento cujo nível vai baixando de mês a mês. Investindo na música “indigente” que a toda a hora tem representantes nos vários canais dessas mesmas televisões. Enterrando os livros bons que se vão escrevendo, sob pilhas de lixo “light”, escrito por vedetas disto e daquilo, ou mesmo simples figurantes do “jet-set”. Atascando os escaparates em revistas “cor de rosa”, onde podemos saber dos arrufos, dos amores, das tricas, dos boatos e da localização ao milímetro do local “inconfessável” em que a jovem actriz ou cantora pimba espetou, para a posteridade, o seu mais recente e ousado piercing.
A sorte ajudando, artistas com a dimensão dramática de um Michael Jackson, sucumbem não se sabe bem como e porquê, permitindo ao sistema que controla a nível global os meios de comunicação, montar este show comercial obsceno à volta da vida e morte dessa patética vítima do próprio sistema, marioneta trágica nas mãos do capitalismo.
Todo o asco que me provoca esta campanha mundial de alienação, misturada com a infame exploração comercial do artista morto, quase me faz esquecer que houve um tempo em que gostei de Michael Jackson."
De qualquer maneira, o pior de tudo, foi começarem a ouvir por todo o lado gente até aí muito sossegada, que inesperadamente começou a ventilar a hipótese de o sistema estar falido, de as teses daquele barbudo Marx terem sido prematuramente declaradas como mortas, de ser preciso mudar de sistema económico, de ser, talvez, interessante, voltar a ouvir com uma nova atenção as propostas dos partidos que, por todo o mundo, já o diziam bem antes de chegar a crise...
Foi o pânico! Houve que lançar mão de tudo. Fazer com que as pessoas não se sintam seguras em nenhum emprego. Fazer com que fiquem agradecidas por o terem. Fazer com que haja sempre uma fila interminável de candidatos a meia dúzia de postos de trabalho, constituída por gente disposta a tudo para os conseguir. Deixar avolumar o sentimento de insegurança até ao ponto de, para além de agradecidos aos patrões, os cidadãos começarem a sentir-se mais seguros rodeados de polícia e dispostos a abdicar de liberdades e direitos. Culpar os pobres pela sua situação. Culpar os imigrantes, os árabes, os pretos, os sindicalistas, os comunas... tudo, menos a sacrossanta economia de mercado.
Na dúvida e para aliviar o stress social que todas estas medidas provocam, é preciso apostar forte na alienação. De forma milionária. Atirando milhões e milhões para cima de miúdos, com o pretexto de serem “desportistas”. Inundando as televisões com toneladas de novelas e programas de entretenimento cujo nível vai baixando de mês a mês. Investindo na música “indigente” que a toda a hora tem representantes nos vários canais dessas mesmas televisões. Enterrando os livros bons que se vão escrevendo, sob pilhas de lixo “light”, escrito por vedetas disto e daquilo, ou mesmo simples figurantes do “jet-set”. Atascando os escaparates em revistas “cor de rosa”, onde podemos saber dos arrufos, dos amores, das tricas, dos boatos e da localização ao milímetro do local “inconfessável” em que a jovem actriz ou cantora pimba espetou, para a posteridade, o seu mais recente e ousado piercing.
A sorte ajudando, artistas com a dimensão dramática de um Michael Jackson, sucumbem não se sabe bem como e porquê, permitindo ao sistema que controla a nível global os meios de comunicação, montar este show comercial obsceno à volta da vida e morte dessa patética vítima do próprio sistema, marioneta trágica nas mãos do capitalismo.
Todo o asco que me provoca esta campanha mundial de alienação, misturada com a infame exploração comercial do artista morto, quase me faz esquecer que houve um tempo em que gostei de Michael Jackson."
Retirado mais precisamente aqui.
Nota: a fotografia foi introdução minha que nunca gostei do Michael Jackson...
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