30 de setembro de 2008

Amanhã estamos em luta!


Uma causa justa.


Podem assinar a petição aqui.

Falta de comunicação...


clicar na imagem para ampliar.

Nisto é que somos mesmo bons...

Os americanos inventaram uma nova máquina de detecção de gatunos. Os primeiros testes decorreram em Nova York e foram um sucesso: em apenas 5 minutos a máquina detectou 1.500 gatunos! Para confirmar a potencialidade do invento resolveram testá-lo também no estrangeiro:

México-3.000 gatunos

Colômbia-4.000 gatunos

Espanha-2.000 gatunos

Angola-5.000 gatunos

Portugal-andam à procura da máquina que foi roubada logo no primeiro minuto!

29 de setembro de 2008

Estás mesmo a pedi-las Ção!


Princípios fundamentais da Constituição.

"Artigo 3.º (Soberania e legalidade).
1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na
Constituição.
2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade democrática.
3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição."

Estimado ouvinte já que agora estou consigo
peço apenas dois minutos de atenção
é pra contar a história de um amigo
Casimiro Baltazar da Conceição
O Casimiro talvez você não conheça
a aldeia donde ele vinha nem vem no mapa
mas lá no burgo por incrível que pareça
era mais famoso que no Vaticano o Papa
O Casimiro era assim como um vidente
tinha um olho mesmo no meio da testa
isto para lá dos outros dois é evidente
por isso façamos que ia dormir a sesta
Ficava de olho aberto
via as coisas de perto
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
e dizia ele com os seus botões
Cuidado Casimiro cuidado com as imitações
cuidado minha gente
cuidado justamente com as imitações
Lá na aldeia havia um homem que mandava
toda a gente um por um pôr-se na bicha
e votar nele e se votassem lá lhes dava
um bacalhau um pão-de-ló uma salsicha
E prometeu que construía um hospital
uma escola e prédios de habitação
e uma capela maior que uma catedral
pelo menos a julgar pela descrição
Mas o Casimiro que era fino do ouvido
tinha as orelhas equipadas com radar
ouvia o tipo muito sério e comedido
mas lá por dentro com o rabinho a dar a dar
E punha o ouvido atento
via as coisas por dentro
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
e dizia ele com os seus botões
Cuidado Casimiro ...
Ora o tal tipo que mandava lá na aldeia
estava doido já se vê com o Casimiro
de cada vez que sorria à plateia
lá se lhe viam os dentes de vampiro
De forma que para comprar o Casimiro
em vez do insulto do boicote ou da ameaça
disse-lhe sabe que no fundo o admiro
vou erguer-lhe uma estátua aqui na praça
Mas o Casimiro que era tudo menos burro
e tinha um nariz que parecia um elefante
sentiu logo que aquilo cheirava a esturro
ser honesto não é só ser bem-falante
A moral deste conto
vou resumi-la e pronto
cada qual faz o que melhor pensar
não é preciso ser
Casimiro para ter
sempre cuidado para não se deixar levar
Cuidado Casimiro ...


Cuidado com as imitações, Sérgio Godinho, álbum "Campolide".

Agora sim, começou o Outono!

26 de setembro de 2008

O vaso chinês.


Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava às costas para obter água. Um dos vasos estava rachado e o outro era perfeito. Este último mantinha-se cheio de água ao fim da longa caminhada do rio até casa, enquanto o rachado chegava meio vazio. Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora chegando a casa somente com um vaso e meio de água. Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir trazer só a metade daquilo que deveria. Depois de dois anos, reflectindo sobre a própria amarga derrota de ser 'rachado', o vaso falou com a senhora durante o caminho: Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta racha que eu tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até a sua casa... A velhinha sorriu e respondeu: Reparaste que lindas flores há somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e plantei sementes de flores na beira da estrada, do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos, tu regava-las. Durante estes dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa. Cada um de nós tem o seu próprio defeito. Mas é o defeito que cada um de nós tem que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante. É preciso aceitar cada um pelo que é e descobrir o que há de bom nele.

Recebido por e-mail.

Princípios fundamentais da Constituição.

"Artigo 2.º (Estado de direito democrático).
A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa."


A democracia é o pior
de todos os sistemas
com excepção de todos os outros
Inda há quem se acanhe
com a pronuncia que tem
mas com cinco letras apenas
se escreve a palavra mãe
que é de todas a mais bela
mais bela que o céu azul
e aqui tem mais letras que no sul
Abel foi morto por Caim
irmão nunca vi mais ruim
trespassou Abel
que ao tombar gritou: Mãe!
A mãe, por sinal, já defunta
Levantou-se mesmo assim
Disse pra Caim
Já não és meu filho
Meu filho da mãe
A democracia é também
uma mãe mais doce que o mel
só que às vezes Abel mata Caim
Caim mata Abel
Por aqui se prova, afinal
que mãe, afinal não há só uma
só em Portugal
são mais que as mães.
Em suma:
A democracia é o pior de todos os sistemas
com excepção de todos os outros
Há muitos países que julgam
que têm democracia
inclusive às vezes o nosso
mas encha-se de justiça o fosso
e erga-se a liberdade ao meio
que só de intenções está o inferno cheio
Não há justiça sem liberdade
e o vice-versa é também verdade
essa é a luta, no fundo
p’los direitos humanos no mundo

A Democracia (aforismos), Sérgio Godinho, álbum "Aos amores".


25 de setembro de 2008

O.N.U., O.N.U., 60 anos a levar no cu!


Objectivos:
-Manter a paz mundial
-Proteger os Direitos Humanos
-Promover o desenvolvimento económico e social das nações
-Estimular a autonomia dos povos dependentes
-Reforçar os laços entre todos os estados soberanos

A realidade:
-Permitir aos estados com maior poder fazer a guerra sob a máscara da legalidade
-Deixar que cada estado faça o que bem entende dos Direitos Humanos
-Promover o desenvolvimento económico das nações mais ricas e o social que se lixe
-Estimular a autonomia dos povos dependentes, caso tenham petróleo, ouro ou diamantes
-Reforçar os laços entre todos os estados soberanos, sempre a troco de algo
Querem ver porquê?
Maiores contribuintes para o orçamento da ONU em percentagem do orçamento total (dados de 2006):
EUA 22 % - G8
Japão 19,47 % - G8
Alemanha 8,66 % - G8
Reino Unido 6,13 % - G8
França 6,03 % - G8
Itália 4,89 % - G8
Canadá 2,81 % - G8
Espanha 2,52 %
China 2,05 %
10ºMéxico 1,88 %
11ºAustrália 1,59%
12ºBrasil 1,52 %
E como o infinitamente grande é igual ao infinitamente pequeno, isto funciona como cá o financiamento dos partidos. Ora deixa cá ver quem é que vai fazer a auto-estrada Continente-Madeira. Hum, estes gajos da Mota-Engil deram uma pipa de massa...
O G8 decide uma grande parte das políticas globais, social e ecologicamente destrutivas, sem qualquer legitimidade nem transparência. Então esta não seria uma função claramente atribuída à O.N.U.? Definitivamente, mas isso não seria favorável aos mais ricos!

Conselho de Segurança:
O Conselho de Segurança é constituído por quinze Estados, sendo cinco membros permanentes (China, França-G8, Federação Russa-G8, Reino Unido-G8 e Estados Unidos da América-G8) e dez eleitos pela Assembleia Geral, por um período de dois anos (art. 23º, da Carta das Nações Unidas). A sua principal função é garantir a Segurança Colectiva e a Manutenção da Paz Mundial... Que puta de falácia! O que temos assistido, com especial incidência para a Guerra do Iraque, é à promoção unilateral da guerra através de invasões a países soberanos e também eles membros da O.N.U. de pleno direito, com base em mentiras. Como é possível que alguém acredite? A qualificação jurídica da guerra contra o Iraque protagonizada pela coligação anglo­‑americana não oferece quaisquer dúvidas: trata-se de uma violação grosseira do princípio da proibição do uso da força pelos Estados individualmente considerados, consagrada no artigo 2.4 da Carta das Nações Unidas, e ainda de um crime de agressão tal como previsto genericamente no Estatuto de Roma que cria o Tribunal Penal Internacional. A lista de violações de Resoluções do Conselho de Segurança (já de si um grupo restrito de estados que não refletem a necessária pluralidade da instituição) é grande. O prémio de violações (não punidas) das decisões da O.N.U. cabe a dois grandes aliados dos Estados Unidos da América, Israel e Turquia. Por si sós, esses dois países abrangem mais de três quintos das violações cometidas (56, de um total de 91) pelos 191 Estados membros das Nações Unidas. É caso para perguntar o que é que estão lá a fazer.

Desde 1968, as decisões do Conselho de Segurança condenando a política israelita foram votadas com certa regularidade, com exceção do período 1971-1979, durante o qual os dois países mais criticados pela comunidade internacional foram principalmente a Turquia e Marrocos.

A atitude imperturbável da O.N.U.:
A Turquia foi objecto de condenações (bastante pacíficas diga-se) por parte do Conselho de Segurança 24 vezes. Todas se referiam à questão de Chipre, onde o norte da ilha continua ocupado por tropas de Ancara apesar das inúmeras resoluções das Nações Unidas que exigem a sua retirada.

Marrocos foi objecto de 16 resoluções do Conselho de Segurança em relação ao Saara ocidental. Os outros países que foram objecto de resoluções pouco ou não respeitadas foram a Croácia (6), a Indonésia e a Arménia (4 cada uma), o Sudão (3), e a Rússia, a Índia e o Paquistão (uma resolução em cada caso). A placidez do Conselho de Segurança não foi perturbada por qualquer dessas transgressões. Pudera!
As imperfeições do sistema da O.N.U. foram manifestas desde a sua criação. A organização fundava-se sobre contradições patentes. Primeiro, a sua criação era necessária, pois não se podia contar com Estados ávidos e belicosos para evitar a guerra, respeitar os direitos dos seus cidadãos ou aliviar o sofrimento dos povos situados fora de suas fronteiras. Em segundo lugar, assim como a Constituição americana havia saudado a igualdade, mas legitimado a escravidão, a Carta das Nações Unidas proclamava o direito à autodeterminação e encorajava a descolonização, enquanto muitos Estados-membros resistiam a abandonar as suas colónias (a descolonização fez passar o número de países-membros de 51, no ano em que a organização nasceu, a 117 vinte anos depois; atualmente conta com 191 membros). Em terceiro lugar, as Nações Unidas davam a mesma voz às ditaduras e às democracias, enquanto que a sua Carta tomava partido, incentivando os Estados-membros a respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Em quarto lugar, como toda a organização, a O.N.U. dependia de uma direção detentora de autoridade, mas o poder foi dado a uma comissão, o Conselho de Segurança, preso a querelas intestinas e dominado por cinco membros permanentes com interesses e sistemas políticos muito divergentes. Por fim, a fundação da O.N.U. baseava-se na ideia de que as agressões entre fronteiras, causa principal da Primeira Guerra Mundial, constituíam a ameaça mais grave para a humanidade. A história iria mostrar que as ameaças mais sérias podem vir de Estados que violam os direitos dos seus cidadãos, no interior das suas fronteiras...
Em 2004 descobriu-se que os soldados da força de paz enviados por Marrocos, África do Sul, Nepal, Paquistão, Tunísia e Uruguai abusaram sexualmente de mulheres no Congo e na Libéria. Funcionários das Nações Unidas responsáveis pelo programa Alimento em troca de Petróleo, destinado a alimentar os iraquianos no fim dos anos 1990, que atingia 65 bilhões de dólares, foram acusados de receber subornos. A Comissão das Nações Unidas para os direitos humanos, presidida em 2003 pela Líbia, reelegeu o Sudão com um mandato de três anos em 2004, bem no meio de uma campanha de massacres étnicos no Darfour, que já havia feito dezenas de milhares de vítimas no país. No começo de 2005, quando a organização chegou ao fundo do poço, Bush anunciou que o próximo embaixador americano junto da O.N.U. seria John Bolton, o homem que não reconhece a existência do direito internacional e declara que se as Nações Unidas “perdessem cinco andares, isso não faria diferença nenhuma”.
Antes do escândalo do programa Alimentos em troca de Petróleo, nada havia manchado tanto de sangue a bandeira da ONU como os massacres no Ruanda e em Srebrenica – matanças perpetradas em 1994 e 1995 na presença das forças da O.N.U. encarregadas da manutenção da paz. Então à frente do departamento de operações de manutenção da paz em Nova York, Kofi Annan foi advertido da iminência dos extermínios por Romeo Dallaire, seu general de campo no Ruanda. De maneira imperdoável, Annan não transmitiu esse alerta ao Conselho de Segurança.
Por tudo isto, por toda a ignomínia, pela injustiça e pela mentira, não podemos deixar de dizer:

O.N.U., O.N.U., 60 anos a levar no cu!
Texto adaptado daqui, daqui, daqui e daqui.



23 de setembro de 2008

Ironia suprema do destino...



Não precisa mesmo de comentários, é só rir!

19 de setembro de 2008

História dos Direitos Humanos.


Parece-me oportuno, para termos uma noção do tempo que leva já a luta pelos Direitos Humanos, fazer aqui uma pequena resenha histórica desses princípios, também eles permanentemente desrespeitados por esse mundo fora.

Os direitos humanos são o resultado de um longo percurso e foram debatidos ao longo dos séculos por filósofos e juristas. O início desta caminhada remete-nos para a área da religião, quando o Cristianismo, durante a Idade Média, é a afirmação da defesa da igualdade de todos os homens numa mesma dignidade. Foi também durante esta época que os filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito natural, em que o individuo está no centro de uma ordem social e jurídica justa, mas a lei divina tem prevalência sobre o direito laico, tal como é definido pelo imperador, o rei ou o príncipe. Mais tarde, a Escola do direito natural, defendeu a existência de direitos que pertencem essencialmente ao homem, que são inerentes à natureza, de que ele goza pelo simples facto de ser homem. Com a idade moderna, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII reformulam as teorias do direito natural, deixando de estar submetido a uma ordem divina. Para os racionalistas todos os homens são por natureza livres e têm certos direitos inatos de que não podem ser despojados quando entram em sociedade. Foi esta corrente de pensamento que acabou por inspirar o actual sistema internacional de protecção dos direitos do homem. A evolução destas correntes veio a dar frutos primeiro em Inglaterra e depois nos Estados Unidos da América. A Magna Carta (1215) deu garantias contra a arbitrariedade da Coroa e influenciou diversos documentos, como por exemplo o Acto Habeas Corpus (1679), que foi a primeira tentativa para impedir as detenções ilegais. A Declaração Americana da Independência surgiu a 4 de Julho de 1776, onde constavam os direitos naturais do ser humano que o poder político deve respeitar. Esta declaração teve como base a Declaração de Virgínia, proclamada a 12 de Junho de 1776, onde estava expressa a noção de direitos individuais. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em França em 1789, e as reivindicações ao longo dos séculos XIV e XV em prol das liberdades, alargou o campo dos direitos humanos e definiu os direitos económicos e sociais, mas o momento mais importante na história dos Direitos do Homem ocorre eno período 1945-1948. Em 1945, os Estados tomam consciência das tragédias e atrocidades perpetradas durante a 2º Guerra Mundial, o que os levou a criar a Organização das Nações Unidas em prol de estabelecer e manter a paz no mundo. Foi através da Carta das Nações Unidas, assinada a 20 de Junho de 1945, que os povos exprimiram a sua determinação em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra, proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignindade e valor da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como entre nações, grande e pequenas, em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade. A criação das Nações Unidas simboliza a necessidade de um mundo de tolerância, de paz, de solidariedade entre as nações, que faça avançar o progresso social e económico de todos os povos. Os principais objectivos das nações unidas passam por manter a paz, a segurança internacional, desenvolver relações amigáveis entre as nações, realizar a cooperação internacional resolvendo problemas internacionais do cariz económico, social, intelectual e humanitário, desenvolver e encorajar o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais sem qualquer tipo de distinção. Assim, a 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem. A Declaração Universal dos Direitos do Homem é fundamental na nossa sociedade e alguns Estados fazem referência directa nas suas constituições nacionais. A Declaração Universal dos Direitos do Homem ganhou uma importância extraordinária, contudo não obriga juridicamente que todos os Estados a respeitem e, devido a isso, a partir do momento em que foi promulgada, foi necessária a preparação de inúmeros documentos que especificassem os direitos presentes na declaração, procurando desta forma obrigar os Estados a cumpri-la. Foi nesse contexto que no período entre 1945-1966 nasceram vários documentos . A junção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os dois pactos efectuados em 1966, nomeadamente o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, bem como os dois protocolos facultativos do Pacto dos Direitos Civis e Políticos (que em 1989 aboliu a pena de morte), constituem A Carta Internacional dos Direitos do Homem.

Texto adaptado da Wikipédia.

18 de setembro de 2008

Estás mesmo a pedi-las Ção!


Princípios fundamentais da Constituição.

"Artigo 1.º (República Portuguesa).
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária."


Soberana... Por isso anda a reboque dos interesse inconfessáveis dos E.U.A. e seus capachos, pactuando com invasões ilegais a países soberanos, por isso cede o espaço aéreo para vôos ilegais da C.I.A. e em clara violação pelos mais elementares Direitos Humanos, por isso promove a todo o custo a ratificação (porreiro pá!) de um Tratado Europeu que apenas visa reforçar o neoliberalismo selvagem (que está a ter um desfecho no mínimo ridículo nos E.U.A.), o federalismo e o militarismo no seio da U.E., por isso entrega recursos hídricos nacionais (como a água, imagine-se, a água!) a monopólios privados dos quais ficaremos reféns por gerações e a preços de mercado internacional, por isso deixa escapar áreas estratégicas da nossa economia (como a energia e a banca) para as mãos de grupos espanhóis, por isso defende a continuação da Política Agrícola Comum e os subsídios para não se produzir que resulta na importação de 60% a 80% da alimentação de que o país necessita! Deve ser por aí que é soberana.
Baseada na dignidade da pessoa humana? Onde está a dignidade num país com 2 milhões de pessoas (20% da população caralho!) no limiar da pobreza e muitas centenas de milhar de pensões e reformas de miséria, onde mais de 20% das crianças vivem na pobreza absoluta, com profundas desigualdades e injustiças sociais, baixos salários generalizados e deficiente acesso à saúde? Onde?
Não vou sequer falar na vontade popular, manietada diariamente pela comunicação social que apresenta tudo o que é mau e regressivo nos direitos como factos inevitáveis. Vou uma vez mais dar voz ao José Mário Branco que os topa à légua:
"Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas na esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! "
Livre, justa e solidária. Não me falem sequer em justiça que me começam logo a encarquilhar as unhas dos pés e isso são refluxos gástricos para outras lenhas. Por ventura o investimento público e privado têm primado por esbater as assimetrias regionais? Nunca! E a região de Lisboa e Vale do Tejo continua placidamente a aumentar como uma metástase desenfreada e internamente enlouquecida. O que temos na prática é uma sociedade condicionada, injusta e solitária. Estamos a ser comidos amigos.

16 de setembro de 2008

José Mário Branco - F.M.I.


"Vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.

Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attaché-case' sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-kiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só

Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI

FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, Vim na cozinha, Vim na casa-de-banho, Vim no Politeama, Vim no Águia D'ouro, Vim em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que muito polulam por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nasceste? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de Coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Salazar a ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natália Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, uma tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos de malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal não quer é trabalhar, pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide, Tarrafais e o carago, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ahn? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ahn? Meia dúzia de líricos pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ahn?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marrazes, Marrazes, o árbitro é um filho-da-puta vão todos p'ro caralho! Razão tinha o Toni de Matos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de polícia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Deng Xiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brejhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar, de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão-de-te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, estás tu a ver, que tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né filho? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canadá ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o horoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Dinamiza filho, Dinamiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, ieh ieh, J. Pimenta fo-re-ver! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ahn? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ahn? Que é que eu ando para aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é pequeno burguês, o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas o caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra! Deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, Satanás, filhos da puta! Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se me foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se ele tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe. Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes.
Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto."

Indispensável para se compreender o Portugal do pós-25 de Abril. A sua denúncia ataca na raíz toda a torpeza infligida à nossa débil democracia e que chegou ao que diariamente assistimos. Sem mais comentários...
Se quiserem podem ver o vídeo aqui (1ª parte) e aqui (2ª parte).

Constituição da República Portuguesa.

"Preâmbulo.
A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação
revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa. A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país. A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno."


Começamos bem... Coroando a longa resistência do povo português? Fuoooda-se! Lá voltamos ao José Mário Branco: ...mas no fim de contas quem é que não colaborava, ahn? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ahn? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ahn? Meia dúzia de líricos pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada!

Pois é! Tudo muito acomodado, exactamente como nos dias de hoje. Apenas mudam as moscas. Para implantar a República, foi o que se viu, e para derrubar o regime fascista foi necessário o descontentamento dos militares de carreira (os que andavam no terreno a ver os seus homens serem estraçalhados numa guerra que não podiam ganhar, excepção feita a Angola) que, com a escalada da guerra e a falta de oficiais, viam ser promovidos em três tempos a Capitães, milicianos sem a preparação e os estudos dos primeiros. É evidente que havia motivações políticas, a guerra arrastava-se, não havia liberdade, mas, se não fosse o arrivismo dos milicianos, tenho cá para mim que teríamos gramado com a Primavera Marcelista com uma pinta do caraças. E talvez não tivesse sido pior... Sim, não tenhamos medo de o dizer! A descolonização, tal como foi imposta pelo Sr. Mário Soares (brilhante a designação do Contra Informação: Só Ares), apenas serviu para mergulhar Portugal e as Colónias no mais absoluto caos, abrindo feridas que ainda hoje estão por sarar. Vamos por partes. A abertura que Marcelo Caetano prometia, mas que tardava em implementar, permitiria a integração gradual das populações africanas na sociedade, através da sua educação e valorização em igualdade de circunstâncias e com plenos direitos, promovendo assim uma franja de africanos com capacidade para ocupar lugares na administração e, mais tarde, toda a máquina político-administrativa dos novos países, que assim teriam a sua justa e ansiada independência. Se por um lado as ex-colónias beneficiavam da nossa formação, por outro, não teríamos assistido ao desaguar catastrófico no cais de Alcântara de pessoas em debandada geral, naquele que ficou tristemente conhecido como o processo de descolonização. Mas isso não interessava ao Sr. Mário Soares (o verdadeiro 666 da 3ª República) e muito menos aos interesses americanos naquela (África) e nesta (Portugal) áreas do globo. O que interessava era deixar as ex-colónias entregues a guerrilheiros sem capacidade efectiva de governar um estado e Portugal invadido por uma turba de descontentes e humilhados (mais tarde auto-denominados espoliados do Ultramar) com uma particular raiva a tudo o que fosse ou cheirasse a marxismo. Foi como chegar lume a um barril de pólvora, tudo cozinhado por Frank Carlucci (à altura embaixador dos E.U.A. em Portugal) e pelo Inominável.
Abrir caminho para uma sociedade socialista? Onde está ela? E o caminho, onde está? É certo que hoje temos um país mais livre, mas então e a justiça e a fraternidade? As cores são três: Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

11 de setembro de 2008

Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimber!

Não resisti! Apesar das considerações tecidas acerca das músicas e do peso das mesmas na página, não resisti à colocação deste vídeo que considero simplesmente fabuloso e que tem a ver, com lenha... Trata-se de um álbum de 1997 (Coldcut - Let us play), mas com uma actualidade cada vez mais inquietante pela destruição continuada e imparável de florestas pelo mundo fora.

Só a Floresta Amazónica abriga 33% das florestas tropicais do planeta e cerca de 30% das espécies conhecidas de flora e fauna. Hoje, a área total vítima do desmatamento da floresta corresponde a mais de 350 mil Km2, a um ritmo de 20 hectares (aproximadamente a área de 20 campos de futebol!) por minuto, 30 mil hectares por dia e 8 milhões de hectares por ano. Com este processo, diversas espécies, muitas delas nem sequer ainda identificadas pelo homem, desapareceram da Amazónia. Sobretudo a partir de 1988, desencadeou-se uma discussão internacional a respeito do papel da Amazônia no equilíbrio da biosfera e das conseqüências da devastação que, segundo os especialistas, pode inclusivamente alterar o clima do planeta.

É a verdadeira barbárie contra o nosso planeta e, sobretudo, contra quem lá vive. Arara, Bororo, Gavião, Katukina, Kayapó, Kulína, Marubo, Sateré - Mawé, Tenharim, Tikuna, Tukâno, Wai-Wai e Yanomami são as tribos indígenas ameaçadas e a quem andamos literalmente a destruir a casa. É o verdadeiro paradigma da riqueza e luxo do hemisfério Norte à custa da pobreza e destruição no hemisfério Sul.

Agora, imaginem que a nossa Constituição é a Floresta Amazónica...



10 de setembro de 2008

Know your rights - The Clash

This is a public service announcement
With guitars
Know your rights all three of them
Number 1:
You have the right not to be killed
Murder is a crime!
Unless it was done by a
Policeman or aristocrat
Know your rights
And number 2:
You have the right to food money
Providing of course you
Don't mind a little
Investigation, humiliation
And if you cross your fingers
Rehabilitation
Know your rights
These are your rights
Wang
Know these rights
Number 3:
You have the right to free speech
As long as you're not
Dumb enough to actually try it
Know your rights
These are your rights
All three of 'em
It has been suggested
In some quarters that this is not enough!
Well...
Get off the streets
Get off the streets
Run
You don't have a home to go to
Smash
Finally then i will read you your rights
You have the right to remain silent
You are warned that anything you say
Can and will be taken down
And used as evidence against you
Listen to this
Run!



Álbum: Combat Rock

9 de setembro de 2008

No princípio era o verbo…

O objectivo primordial deste blog é ir dando a conhecer, ou para quem já a conhece, relembrar, aqueles que são os nossos direitos enquanto cidadãos desta República Portuguesa, expressos precisamente na sua Constituição, a Lei por excelência, de molde a percebermos bem todos os direitos e garantias de que diariamente somos espoliados. O texto constitucional aparecerá em itálico, sendo o comentário respectivo, por regra jocoso como se verá, apresentado em arial normal. Este é assim o mote, não significando que não se possa aqui falar de outros e variados assuntos, o que considero até desejável.
Não contem com lenha diária, embora isso possa vir a acontecer dependendo da disposição do autor, do natural desenrolar dos acontecimentos neste jardim à beira-mar plantado ou simplesmente porque apeteceu. Se por acaso o fim se der após o artigo 296º, não se espantem porque longo terá já sido o caminho percorrido e a lenha amontoada, no entanto, nada de escravidão, o mesmo é dizer que se me der na telha a coisa pode mesmo acabar antes.
Procurou-se uma apresentação gráfica de fácil leitura e com poupança de energia, assim como o menos agressiva possível para as muito solicitadas retinas.
Era óptimo ter profusão de músicas quando muito bem apetecesse, mas o peso dos ficheiros seria incomportável nesta página que se pretende de fácil e rápido acesso, pelo que vou optar por mostrar a letra das músicas adequadas a cada momento e que tenham algo a dizer. Os bons instrumentais ficam assim relegados para o sofá.
Neste blog não vão encontrar nenhum LOL (laugh out loud), mas é muito provável que se deparem com alguns SOL (shout out loud)…
Let’s go, sente o puro flow, ready, set, go!*


*singela homenagem a esse grupo magnífico de rapazes que comeu e não calou e que dá pelo nome de Da Weasel. Gente assim merece todo o sucesso do mundo.

4 de setembro de 2008

Em construção.

Se por acaso veio parar a este blog, saiba que o mesmo está em construção. Quando começar a rachar lenha, avisa-se desde já que vai ser muita a serradura e as lascas a saltar e será da sua inteira responsabilidade levar com elas, a não ser que prefira levar com a lâmina... Se assim for não faz cá falta, o que se pretende é esclarecer e ser esclarecido e nunca empobrecido ou adormecido. Ah, de vez em quando também vão aparecer gajas nuas, mesmo! Sim, porque eu sou um gato asseado. Este blog diz o que muito bem lhe apetece!
Até breve.